Sina
Um roto andarilho
Pedia-nos a licença
De uns versos contar
Enquanto o navio
No porto aguardava
E frente a espera ociosa
Lúgubre cantilena tomou lugar
Falou-nos o cantador
De mórbida noite
Onde embriagado
Em velha taverna sonhava
Quando ao vento mais forte
Um violinista triste chegou
Versos tristes a declamar
Era o violinista poeta
Servo da escuridão
E em macabro oficio
Seguia em poemas
De severa desolação
Eis então
Na noite trevosa
Naquela taverna ociosa
O nobre ouvinte
Em debochada ironia
Ironizou mórbida inspiração
Calado o violino
Deu-lhe um sorriso
E em rubro desatino
Lamentou os versos
Que gravei no coração
Gemiam cordas doloridas
E o poeta interrompia-se
E fitando o nobre crítico
Declamava em calma aflição
— Não, não sorrias
Dos meus versos pálidos
Não seja cruel delator
As poesias de sombra vestidas
São uma ode ao horror
Mas vão seguindo a noite
Revestindo-se de amor
Lembra-te do poeta que dizia
Não é para sorrir que se vive
Os murmúrios e lamentos
Que propicia-nos a vida
São prenúncios de eternos sofrimentos
A morte espreita
E nos caminhos que ceifa
Gargalha satisfeita
Tu, que ousas sorrir
Beijarás a lápide fria
Dos teus joelhos
Vermes se nutrirão
Em torturante angustias
Implorarás por perdão
Quando de tua carne
Não suportar a podridão
O inferno, ó criatura insípida!
Não é de chamas e demônios
Tua sina maldita
É ouvir a eternidade
Em tumba proscrita
E servir de alimento
Aos rastejantes irmãos
E cada vez que meu verso
Declamar-se sombrio
Aos murmúrios do violino
Tua sede em gotas se saciará
Esperarás ansioso
Como tantos esperam
Saberás destas lamúrias
Em sangrenta solidão
Túmulo em soturna eternidade
Eis o que a mórbida ceifadora
A ti reservando está
Por tão pródigos dias
Que por esta vida levas
Por eternas eras
Turvos pensamentos
Ao hálito da podridão
Serão teus tormentos
Feita a sombria previsão
O violinista triste partiu
Minha saga meu destino
A ironia minha decidiu
— E desde então sigo a sina
De romper a maldição...
E assim dizendo
Com lágrima sentida
O enrouquecido poeta
Andarilho solitário
Sumiu na escuridão
— E desde então sigo a sina
De romper a maldição...
— E desde então sigo a sina
De romper a maldição...
...De romper a maldição...
a maldição
Tânia Souza
Um roto andarilho
Pedia-nos a licença
De uns versos contar
Enquanto o navio
No porto aguardava
E frente a espera ociosa
Lúgubre cantilena tomou lugar
Falou-nos o cantador
De mórbida noite
Onde embriagado
Em velha taverna sonhava
Quando ao vento mais forte
Um violinista triste chegou
Versos tristes a declamar
Era o violinista poeta
Servo da escuridão
E em macabro oficio
Seguia em poemas
De severa desolação
Eis então
Na noite trevosa
Naquela taverna ociosa
O nobre ouvinte
Em debochada ironia
Ironizou mórbida inspiração
Calado o violino
Deu-lhe um sorriso
E em rubro desatino
Lamentou os versos
Que gravei no coração
Gemiam cordas doloridas
E o poeta interrompia-se
E fitando o nobre crítico
Declamava em calma aflição
— Não, não sorrias
Dos meus versos pálidos
Não seja cruel delator
As poesias de sombra vestidas
São uma ode ao horror
Mas vão seguindo a noite
Revestindo-se de amor
Lembra-te do poeta que dizia
Não é para sorrir que se vive
Os murmúrios e lamentos
Que propicia-nos a vida
São prenúncios de eternos sofrimentos
A morte espreita
E nos caminhos que ceifa
Gargalha satisfeita
Tu, que ousas sorrir
Beijarás a lápide fria
Dos teus joelhos
Vermes se nutrirão
Em torturante angustias
Implorarás por perdão
Quando de tua carne
Não suportar a podridão
O inferno, ó criatura insípida!
Não é de chamas e demônios
Tua sina maldita
É ouvir a eternidade
Em tumba proscrita
E servir de alimento
Aos rastejantes irmãos
E cada vez que meu verso
Declamar-se sombrio
Aos murmúrios do violino
Tua sede em gotas se saciará
Esperarás ansioso
Como tantos esperam
Saberás destas lamúrias
Em sangrenta solidão
Túmulo em soturna eternidade
Eis o que a mórbida ceifadora
A ti reservando está
Por tão pródigos dias
Que por esta vida levas
Por eternas eras
Turvos pensamentos
Ao hálito da podridão
Serão teus tormentos
Feita a sombria previsão
O violinista triste partiu
Minha saga meu destino
A ironia minha decidiu
— E desde então sigo a sina
De romper a maldição...
E assim dizendo
Com lágrima sentida
O enrouquecido poeta
Andarilho solitário
Sumiu na escuridão
— E desde então sigo a sina
De romper a maldição...
— E desde então sigo a sina
De romper a maldição...
...De romper a maldição...
a maldição
Tânia Souza
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