Hoje eu não quis tomar café. Tinha um gosto fúnebre na boca. Um odor de rosas mastigadas invadiu o escritório. Ouvi seus passos, nas batidas de uma porta mal encostada, que dançava com o vento. Não, não senti suas mãos.
Disse aos amigos o quanto os amo. Sabe-se lá de onde veio essa vontade... Resolvi perguntar, já que ela estava ao meu lado.
“Veio de você?”
Teve gente que até estranhou minhas declarações tão gentis logo pela manhã, enquanto o normal seriam conversas banais e brincadeiras nada sutis.
— Você está estranho...
— Você bebeu logo pela manhã?
— Algum motivo em especial para me dizer isso?
Talvez...
Motivos... Motivos podem ser uma bela desculpa para o pior. Sabe-se lá...
“Você está querendo me dizer alguma coisa?”
As respostas que só eu posso ouvir. Ela canta ao meu lado, notas insones e destoantes de tudo aquilo que eu deveria acreditar. Ela ri de minhas piadas medrosas. Um disfarce para o medo de sua presença,
“Está se divertindo, não é?”
Talvez ela esteja com tempo de sobra. Parece não estar com pressa. Tenho fome...
“Vamos almoçar?”
Fomos ao restaurante. No caminho, olhei com um pouco de medo para o ônibus que descia a ladeira, atrás de mim. Desci com os pés confusos... Acelerar ou frear? Ela piscou quando um motoqueiro passou com ares de mal encarado.
“Não estou achando graça, sua...”
No cruzamento, olhei até para o céu...
Chegamos ao restaurante.
“Vai descer ou me espera aqui? O que você come?”
O que a morte come? Pensei nisso enquanto atravessava até o local onde estavam os pratos.
— Boa tarde Marcelo, tudo bem?
Sim, eu estava bem. Ou ainda estou... Arroz, um bife apetitoso ao molho madeira, fritas e farofa...
“Acho que não vai ser agora que vou começar a comer salada, não é mesmo? O que você acha?”
E durante o almoço sei que ela não me deixou. Estava ali comigo. Assistindo a um DVD da Martinalha ao vivo em Berlin (sem som... graças!) Nada contra, mas eu queria ouvir The Cure naquele momento. Pagamos a conta... Os olhos da garota do caixa me pareceram mais verdes hoje. Pode ser apenas a minha vontade de ver o mar...
“Paçoquinha? … Não? Medo de engordar?”
Voltamos para casa e ela sentada no banco do passageiro. Outra vez o morrão... Um caminhão de lixo descendo no sentido contrário. Lixo... Ah, bobagens... Já ia começar com filosofias de boteco. Sorri minhas lamúrias...
Chegamos e aqui estamos nós. Me incomoda a dor nas costas e no pescoço.
“Não tem outro lugar para se acomodar não?”
Preciso trabalhar, deixar as coisas acertadas por aqui. Viajo amanhã...
“Você vem?”
E ainda teve um convite no final, a morte é insistente, né?
ResponderExcluircaramba, garota, que imaginação. que surreal isso, esse texto... a personficação da morte fazendo companhia... amei. aplaudiria de pé, se vc pudesse ouvir!
ResponderExcluirhttp://terza-rima.blogspot.com/
Meusdeusesboquiabertos, que texto sublime!
ResponderExcluirAdorei!