23 de jun. de 2010

descaminhos



descaminhos

e quando sinto
absurdamente tristes
ponteiros em estilhaçado labirinto
é no silêncio que a dor 
de súbito emerge
é ainda calada que minh’alma chora
e aves de outrora pressinto


mas eis que a sede não saciada
a fome angustiada
a fé dilacerada
ainda existem
agourentas asas
vagam
          vãs 

                  vagas

ah, destino, vai-te embora
tu que denso, trágico e faminto
enlaça-me, provoca-me
e deixa-me
n’algum abismo
ah, logo caminhos pressinto
ah, e mais uma vez persisto
noite se foi sem mim

e para meu lamento
procuro em desespero algum alento
e nas palavras ele vem
nas palavras torpes, tristes
belas, vagas ou vãs palavras vêm
alento das palavras de ninguém

e febrilmente teço
universos que desconheço
passos, rictos e tragédias
e com voracidade escrevo
esta cruel comédia
de um sonho que adormeço
e recrio nestas sagas
em dor que desconheço
caminho
em descaminhos

enquanto o agora inalcançável,
mas quiçá, inexorável
abraço da noite eterna não vem


2 comentários:

  1. Oh, uma poesia tema do bloguito!

    Volte para o caminho, apesar de o descaminho ser belo quando escreve...

    =)

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  2. Muito bom mesmo! =) Vou ver tudo com mais calma depois.

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