Ela se escondeu sob as cortinas, deixando que a noite costumeira a abraçasse, enquanto a televisão era desligada.. As sombras pareciam mover-se no quarto escuro, iluminado vagamente por uma fresta suave da luz que vinha do poste lá fora. Os passos subiram a escada. Ela continuou imóvel, os sons dos pés se afastando lentamente. Ouviu a porta do quarto ao lado se abrindo, para depois se fechar. Os passos pararam de súbito, frente à porta que interligava os aposentos e lá permaneceram por alguns instantes, quase podia sentir o olhar atravessando a madeira escura, tão intenso que ela estremeceu, contendo o desejo de se esconder.
Apesar de o peito doer com a força do sangue acelerando o coração, do pavor que a imobilizara, resistiu. Os ponteiros do relógio eram então uníssonos com o coração frágil. Da janela, vislumbrava a noite oculta por nuvens. Era chegada a hora. Por muitas noites, aquelas mesmas nuvens vestiram a lua para lentamente devassá-la em sua perturbadora sedução. Inquietando, convidando.
Atravessou a casa silenciosa, oculta nas sombras e, finalmente, a porta estava a sua frente. Mais alguns passos e estaria livre. Abriu a porta e estremeceu quando um leve rangido rompeu a noite. Lá no mundo, porta a frente, a lua surgia, lenta e definitivamente bela por detrás das nuvens. Alguma estrela tardia fazia vezes de sonho. O luar espalhava-se por todo lugar, inclusive dentro da casa umbrosa, estendendo-se sobre a soleira, insinuando-se por sua branca pele.
No entanto, a luz se acendeu as suas costas, assustando aquele luar ternurento que já a seduzia.
Ele estivera sentado na penumbra por toda a noite, cercado pelos mais caros objetos decorativos, por peças de luxo e bom gosto, tão formais e severas que ela sempre temera quebrá-las, sempre sobressaltada entre o imaginar e o viver. Sim, por toda noite, ele estivera esperando por esse momento, para então ter consciência da verdade, ela o deixaria naquela noite. A moça de lua teimava aflorar entre as vigas da casa.
Os olhos de ambos se cruzaram. Estremeceram perante as muitas palavras, acres e cobertas de visgos, que os lábios cerrados vomitavam naquele silencio opressivo.
Lá fora o luar.
A sua volta, as sombras como tentáculos ameaçadores. Talheres de prata, finos lençóis, séculos de tradição.
Lá fora o luar.
Ela, que sempre fora uma boa moça e, com o passar do tempo, tornara-se uma boa esposa, baixou as mãos que ainda tocavam a maçaneta da porta entreaberta. As mãos dele puxaram lentamente a porta e o escuro foi invadindo a casa, sufocando a mulher enluarada que ousara sonhar. Entre nuvens pálidas, luar se foi.
E a alma dela suspirou ainda uma vez, antes de voltar-se para ser novamente sombras.
Definitivamente sombra.
Apesar de o peito doer com a força do sangue acelerando o coração, do pavor que a imobilizara, resistiu. Os ponteiros do relógio eram então uníssonos com o coração frágil. Da janela, vislumbrava a noite oculta por nuvens. Era chegada a hora. Por muitas noites, aquelas mesmas nuvens vestiram a lua para lentamente devassá-la em sua perturbadora sedução. Inquietando, convidando.
Atravessou a casa silenciosa, oculta nas sombras e, finalmente, a porta estava a sua frente. Mais alguns passos e estaria livre. Abriu a porta e estremeceu quando um leve rangido rompeu a noite. Lá no mundo, porta a frente, a lua surgia, lenta e definitivamente bela por detrás das nuvens. Alguma estrela tardia fazia vezes de sonho. O luar espalhava-se por todo lugar, inclusive dentro da casa umbrosa, estendendo-se sobre a soleira, insinuando-se por sua branca pele.
No entanto, a luz se acendeu as suas costas, assustando aquele luar ternurento que já a seduzia.
Ele estivera sentado na penumbra por toda a noite, cercado pelos mais caros objetos decorativos, por peças de luxo e bom gosto, tão formais e severas que ela sempre temera quebrá-las, sempre sobressaltada entre o imaginar e o viver. Sim, por toda noite, ele estivera esperando por esse momento, para então ter consciência da verdade, ela o deixaria naquela noite. A moça de lua teimava aflorar entre as vigas da casa.
Os olhos de ambos se cruzaram. Estremeceram perante as muitas palavras, acres e cobertas de visgos, que os lábios cerrados vomitavam naquele silencio opressivo.
Lá fora o luar.
A sua volta, as sombras como tentáculos ameaçadores. Talheres de prata, finos lençóis, séculos de tradição.
Lá fora o luar.
Ela, que sempre fora uma boa moça e, com o passar do tempo, tornara-se uma boa esposa, baixou as mãos que ainda tocavam a maçaneta da porta entreaberta. As mãos dele puxaram lentamente a porta e o escuro foi invadindo a casa, sufocando a mulher enluarada que ousara sonhar. Entre nuvens pálidas, luar se foi.
E a alma dela suspirou ainda uma vez, antes de voltar-se para ser novamente sombras.
Definitivamente sombra.
Experiência deveras insólita, Taninha. Estou com medo de olhar lá fora...
ResponderExcluirBjs,
Flávio