Angel
Um conto de Marcio Renato Bordin
No balcão, os bêbados gritavam pedindo mais uma dose, cambaleantes nas próprias pernas. Uma mulher vestida em farrapos, parada na rua segurava os filhos barrigudos pelas mãos e camisas enquanto gritava pela alcunha de seu marido... Um dos bêbados... Fosse qual fosse, nem se dava o trabalho de olhar para a porta.
Uma dupla sertaneja de quinta categoria cantarolava mais uma música de seu repertorio brega. Aquilo doía mais nos ouvidos do que os gritos histéricos da maltrapilha esposa lá fora.
N’uma mesa em minhas costas, um grupo mais jovem jogava truco enquanto enxugavam caixas e caixas de cerveja... Esmurravam a mesa aos berros, subiam nas cadeiras, xingavam e riam... Minha cabeça parecia que iria explodir a qualquer momento.
Era noite de sexta-feira. Só queria tomar algo para relaxar o corpo da estressante semana que findara. Parei no primeiro bar que encontrei. Bebericava minha cerveja no balcão. Um copo n’uma mão e um cigarro na outra. Estava ao lado dos bêbados, de costas para os jogadores, perto dos músicos... Nunca tive tanta certeza de que o inferno existe, e eu estava nele.
Ráptus: s. m.
Psiquiatr. Impulso violento e brusco que pode levar um homem a um Ato violento fazendo-o perder o controle sobre si próprio.
Eu estava prestes a sentir na pele o verdadeiro significado dessa palavra... Ráptus.