23 de dez. de 2009

A Casa das Almas - Luiz Poleto

Descaminhos Sombrios apresenta um conto magistral de Luiz Poleto "A Casa das Almas" . Narrativa que conduz o leitor por um caminho onde a angústia das imagens consegue ser captada a cada instante em crescente expectativa até o supremo terror.  De forma peculiar, o autor nos leva por um labirinto onde o belo e o feio convivem de forma aflita e sedutora, da qual não se pode fugir. Aprecie e arrepie-se!

Para Leonardo Nunes Nunes, Paulo Soriano e Henry Evaristo. 
 
Ninguém sabe ao certo quando ela foi construída, mas todos sabem que foi desativada sob estranhas circunstâncias até hoje não explicadas de forma convincente. Mas, independente disso, lá está ela, sozinha em meio ao campo, com apenas uma estreita estrada de terra, que no passado era o único caminho em meio ao ralo matagal que levava até o portão principal da Igreja de Tampadas.

30 de nov. de 2009

O templo de Zarhaad - Henry Evaristo

       Descaminhos sombrios tem a honra de apresentar um conto singular de Henry Evaristo. O autor de Um salto na escuridão mergulha de forma original na obra de Lovecraft, mas o faz de forma criativa e única, mantendo o estilo que já lhe é característico. Arrisquem-se à angustiante experiência de conhecer o templo de Zarhaad.  


O TEMPLO DE ZARHAAD

Henry Evaristo

    Sempre me senti atraído pelo insólito. Quanto jovem despendia horas a fio absorto na tarefa de garimpar nas bibliotecas de meus familiares todos os livros que abordassem temas assombrosos e fantásticos.
  Tudo naquele universo me interessava profundamente e meus esforços para tocá-lo, de qualquer forma, tornaram-se cada vez mais veementes com o passar dos anos.
    A herança recebida de um tio tirou-me da miséria em que a morte de meus genitores me deixara e com trinta e cinco anos eu soube, pela primeira vez, o que era a liberdade financeira quase sem limites. Minha ânsia pelo inusitado que existe nas entrelinhas do mundo, podada durante os últimos anos pelas dificuldades financeiras e pelo trabalho que tinha para manter a casa apenas com meus ganhos com aulas particulares, cresceu desmesurada e diretamente proporcional à fortuna que, de repente, eu vira depositada em minha conta no banco. Eu, como único sobrinho do velho Santmartin, herdara-lhe a fortuna.

21 de nov. de 2009

Novembro Insano

Novembro Insano

Não sei se foi o calor que nos matou
Mas morremos naquele novembro
Quando a febre tornou-se rotina
Os rostos avermelhados
Os olhos mortiços
Lábios rachados
O sangue fervia
A intolerância
A agonia
A ira
De um olhar raivoso
O sangue derramava-se
No ódio que o calor transmitia

13 de nov. de 2009

E nem dói tanto quanto acordar e não ter você aqui.

E nem dói tanto quanto acordar e não ter você aqui.

E as paredes desse quarto são tão pálidas
E esses travesseiros ainda têm o cheiro seu

E nada dói tanto quanto acordar e não ter você aqui
Essa noite foi tão bom eu te sonhei

E a dor se espalha conforme o sol inunda a janela
E eu lembro foi você que a quis assim, acordando a casa em luz

Sozinha, sem seus passos na cozinha
E um anjo entristecido me olha da parede

E o café amargo, não tem na geladeira nada
E é bom pois o nada é o que eu sou

E os minutos do relógio enlouquecido nem sei como vão
E não tem sentido esse pão macio no forno

Sozinha, a mesa não me despertará
E sei que a fome de mais um dia já não vem

pro-cura

pro-cura
 
e nos cacos do espelho
em tristes *meixelas
ah, já não me vejo
cilios, rastros
quebradiços retratos,
de pejos, desejos
labirinto de outrora
eu sou


....

Descobri na página da Poeta Galega, a delicadeza das *meixelas.
Meixelas ( Gz)  - maçãs do rosto!

7 de nov. de 2009

Sopor Aeternus

Sopor Aeternus [Dark Delight] + Elend [Lucifer]





Para pensar...

Metamorfose - A fúria dos Lobisomens


Lino França Jr.
convida para o lançamento do livro Metamorfose - A Fúria dos Lobisomens.

Dia 19/12/09 - ás 18:30hs - no Bar do Batata.
"A noite está chegando...
Os Lobisomens finalmente serão soltos e estarão à procura de suas vítimas."
Uma antologia muito esperada, voltada para uma das mais fascinantes ( e algo esquecida) figuras do universo fantástico. Que venham os uivos, o luar convida e seduz ... prepare-se você também! 


Aos amigos Duda Falcão , Lino França Jr. , Mario Carneiro Jr. e demais participantes da antologia, desejo todo sucesso do mundo!!!!!


2 de nov. de 2009

Descaminhos surreais - Tânia Souza

Descaminhos surreais

Fez-se passarela de estrelas
Em-briagantes sonatas
Mulher feminae chorava

Pedregulhos eram perólas na carne
Dos pés em pró-cura, vestia-se ainda de não.

Entre-nuvens, louros cachos do tempo
Desenhos esvoaçavam esperança

Flutuou enfim alma dispersa
Em cratera atemporal

          Da vida sorveu beijos tantos
          Relembrou sorrisos, encantos
          E assim foi.

Despedaçou-se depois na realidade...


Tânia Souza

Aventura Fantasma - Mensageiro Obscuro.

      Em viagem surreal, estes versos de estreia do Mensageiro Obscuro no Descaminhos Sombrios convidam: o dia dos mortos chegou entre sombras, vultos e festejos, a morte é a estrela e o poeta, estranho maestro dessa nefanda celebração. Leiam e aproveitem a festa!!!!!

Aventura Fantasma

A madrugada era gélida e calada,
Revelava flores e folhas secas,
E poeira e parafina queimada.
Chegaram meus companheiros,
E acordamos do sono contínuo.

Saímos eufóricos de nossos túmulos,
Éramos sombras entre névoas,
Invadimos o sarau dos vivos.
Filósofos, escritores, músicos
E góticos foram os anfitriões.


O sarau foi em nosso mausoléu,
A alegria das artes nos seduziu.
Dois bailes paralelos seguiam
Em uma só realidade!

A interseção de vivos e mortos
Criou nossa aventura fantasma.
Ossos e cinzas dormem enquanto
A mortalha será nossa bandeira.

Mensageiro Obscuro.
Maio/2008.

1 de nov. de 2009

Nós, que aqui estamos por vós esperamos! - Tânia Souza

"Nós, que aqui estamos por vós esperamos
Sonhei-me num cemitério: os túmulos eram azuis, flores multicoloridas estremeciam na brisa e vultos esguios surgiam em alguns cantos... não importava, eles não estavam ali por mim, nem eu por eles... os ipês amarelos derramavam flores e douravam o azul. Talvez eu tenha caminhado numa tela de Van Gogh.

Meus pés estavam descalços, sentia entre os dedos a areia fina, não como na praia, mas como no quintal de minha casa, quando ainda menina brincava e sentia o frescor de Gaia me chamando sob a sombra das árvores mais antigas. 

Eu estava morta e no instante seguinte, eu estava viva. Os vultos, talvez caminhassem cada um em uma tela particular: mansas, intensas, suaves tempestades...  seguiram seus passos, os meus.... ainda esperam.

Tânia Souza 01/11/2009

Velório - Por Mensageiro Obscuro

Velório: despedida, adeus, até logo, até breve, até nunca, até mais... Velório: a melancólica certeza do não mais,  explorada de forma bela e comovente neste poema do Mensageiro Obscuro. De fato, há certa beleza no adeus quando de amor se faz impregnado, mas ainda assim, adeus é sempre triste.
                        


Certos pensamentos causavam vertigem,
Escrever podia ser melhor que dizer,
Devaneios e inquietude me perseguem,
O vinho já não me causava tanto prazer.

Uma expressão triste tomava meu rosto,
Desejos, esperanças e prazer acabaram-se,
E agora no sarcófago? Resta meu desgosto!
Vida, triste existência, melhor não tê-la.

Meus sentimentos, frio punhal
Que me cortou, o frio,
Sinto o frio mortuário...
Uma dor toma meu ser.
Não há inocência,
A esperança está morta,
Aceito meu destino,
Vou morrer.

O cemitério está nebuloso e enfeitado
Com velas e flores, em lindo sarau,
Com artistas exóticos e soturnos,
Meu funeral: o fim de minhas dores!
Clamo por aventuras, eis o fim!

Da mortalha fiz capa e dancei
Dancei entre os que se foram.
Vinho, velas, neblina e artes
Embalaram o velório.

A última festa entre amigos
Que há muito tempo me deixaram,
Observei minha mumificação
E notei que já fui amado.

Mensageiro Obscuro.
Maio/2007.

"Nós, Que Aqui Estamos por Vós Esperamos" - Parte II - Tânia Souza

 "Nós, Que Aqui Estamos por Vós Esperamos"


O título deste post não foi criado por mim. Em 2000, quando ainda estava na Universidade, pude conhecer e não mais esqueci essa obra especial. Trata-se de um prêmiado documentário brasileiro "Nós que aqui estamos por vós esperamos" foi dirigido por Marcelo Masagão, no ano de 1998. Recebeu Prêmio GNT de renovação da linguagem, Prêmios no 3º Festival de Cinema Nacional de Recife, no 4º Festival Internacional de Documentários de SP e no 17º Festival Internacional do Uruguai.


Um filme no qual esperança e desalento, lágrimas e risos dançam nos olhos diante da tela, quando o Século XX revela-se nas imagens que crescem junto com trilha sonora composta por Wim Mertens: insano, belo, poético, trágico, moderno, complexo, barroco, comovente e paradoxal, o filme-memória de Marcelo Masagão simplesmente merece ser visto muitas vezes. O título do post vem do filme, parece que o título do filme vem do pórtico de um cemitério da cidade de Paraibuna no interior do Estado de São Paulo, onde se lê a mesma frase. a origem da frase? Não sei, apenas sei que se puder, assista e comova-se perante a humanidade desnuda.
  • Sinopse

    A partir de recortes biográficos reais e ficcionais de pequenos e grandes personagens do mundo, Nós Que Aqui Estamos, Por Vós Esperamos narra a história do século XX. Com 95% de imagens extraídas de arquivos, o filme pretende discutir a banalização da morte e por correspondência direta, da vida.



  • Informações Técnicas 
  • Título: Nós que aqui estamos por vós esperamos 
  • País de Origem:  Brasil 
  • Gênero:  Documentário 
  • Tempo de Duração: 73 minutos 
  • Ano de Lançamento:  1999 
  • Site Oficial: Filmes do Masagão 
  • Estúdio/Distrib.:  Riofilme
  • Direção:  Marcelo Masagão.
*Clique aqui e veja trechos no YouTube.

*Wim Mertens é um compositor belga que preza pela parte minimalista da música clássica.

Silencioso desencanto

E o azul rompe-se
Estilhaçando a tarde morna,
Fotografias que a brisa carrega
Dolência de dias proibindo céu

Tânia Souza

31 de out. de 2009

HAPPY HALLOWEEN!!!!!! Selinho comemorativo By Witch Princess

Para concluir a Semana Especial Dia das Bruxas, Descaminhos Sombrios recebe esse lindo selo criado pela Carla, do Witch Princess,  obrigada querida.
HAPPY HALLOWEEN!!!!!! Selinho comemorativo By Witch Princess


Regrinhas:
Podem indicar para quantos blogs quiserem: 1, 3, 5, 10...
Só peço que publiquem este texto mencionando que este selo
é uma criação By Witch Princess, linkando o meu blog, ok?
Então, meus indicados são :
Câmara dos Tormentos   
Mundo de Fantas 
Gothic Darkness

Bruxa, bruxinha, bruxilda, bruxosa

Bruxa, bruxinha, bruxilda, bruxosa  
Por Tânia Souza


Ei, psiu, venha até aqui
                           Não tenha medo de mim
                  Olhe bem nos meus olhos


Tente não estranhar

Neste mundo existe
Cousas de espantar
 

               Meu caldeirão está fervendo
            Com baba de morcego, flor azul
                  E outras coisitas mais...

Eu sou uma bruxa tão famosa
Por maldades diversas sou temida
Hoje, quero contar um segredo
Que guardei por toda vida

                  Não sou má, talvez ma de luca

                      Sou uma moça esquisita
                  Vestida de preto, como tantas
                     Pois essa cor é tão bonita
   
  E em vez de piercing, olhe bem
   Adoro as verrugas que meu nariz tem
 

E as botas em couro, bicudinhas
Na verdade acho uma gracinha...

                 Minha risada escandalosa?
                 Ka ka kak ka ak aka kak ka…!
                 Não difere muito da sua a gargalhar.

Só por que eu danço em noites de luar
Não precisa me condenar

                       Gosto de magia, de escutar a vida
               Sei segredos da terra e das árvores
           Elas falam de magias escondidas
     Mistérios do mundo inteirinho

        E se n'alguma noite escura
        Uma descabelada garota passar
        Voando em vassoura enlouquecida
        Não precisa se assustar, nem soluçar
Com a tal chapinha não me acostumei
E deixo meus cachos soltos no ar

Sou bruxa, bruxinha, bruxilda, bruxosa
Mas sou mesmo uma menina divertida
Que não tem com quem brincar

           Não tenha medo desse meu olhar
           No calderão não vou lhe empurrar
           Isso é intriga, mentira da braba
       
Veja e prove dessa fervura multipla
É uma gostosa e mística poção
Para minhas verruguinhas amaciar

              Meu namorado é um gnomo majestoso
              E adora comigo, sob o luar passear

              Esta noite ficarei bem escabrosa
                       Para ele se encantar
                     Sou uma bruxa moçoila

         Quinhentos anos é idade boa pra casar

                 Se amaciar bem as verrugas
                 Se arrepiar o cabelo
                 E com perfume de morcegos
                 Meu pescoço adornar
ai ai ai bem sei

Ele vai se declarar

Esse é o segredo que queria contar
Uma bruxa apaixonada presenteia
Quem seu caminho passar
                 
           Ofereço-lhe uma taça da poção
           Para a sua beleza aumentar

E um belo gnomo verruguento
          
Ou uma feiticeira encardidinha
                                  
Por você vai se enamorar...

25 de out. de 2009

Bruxas, figuras de poder - Ensaio de Paola Basso Menna Barreto Gomes Zordan

O blog do escritor Henry Evaristo, que destaca-se pela excelente contribuição à divulgação da literatura fantástica, contribui para a Semana Especial Dia das Bruxas do Descaminhos Sombrios com este ensaio postado na Câmara em 11.11.2006. Uma interessante leitura sobre o universo construído em torno dessa figura que tanto fascinou, assustou, inquietou a sociedade. Para quem quer conhecer um pouco mais sobre o tema e, principalmente,  atraves de um texto que percorre textos que ajudaram, históricamente, a contruir essa imagem, ora romantica, ora ameçadora, leia o ensaio de Paola Basso Menna B. Gomes na Câmara dos Tormentos. Palavras chaves: bruxas, corpo, feitiçaria, paganismo, inquisição.

Mundo de Fantas - Semana "Dicas de leitura" especial Dia das Bruxas.



Ler, mergulhar no universo das palavras e vivenciar emoções únicas: sofrer, sorrir, temer, chorar, inquietar-se, assustar-se... a literatura tem este estranho e maravilhoso poder.  

Pensando nisso,  Celly Borges, do blog Mundo de Fantas preparou, para deleite sombrio dos leitores, a Semana "Dicas de leitura" especial Dia das Bruxas.

Confira diariamente dicas de obras clássicas ou ainda desconhecidas, relacionadas ao tema Dia das Bruxas. Confira e escolha o que ler neste  Halloween. Afinal...

† † † † † Magic in the air. . . on Halloween † † † † †

21 de out. de 2009

Galeria do Sobrenatural - Lançamento



Descaminhos Sombrios tem um nefasto prazer em divulgar a literatura fantástica, assim, agradecendo ao convite para o lançamento, apresentamos a coletânea “Galeria do Sobrenatural - Jornadas Além da Imaginação” .


Mario Carneiro Jr. - do blog A Lua Mortal - participa com o conto "Um Estranho Incidente Noturno". Conforme o autor, esta foi a primeira história de horror que escreveu, inspirada em um pesadelo deveras sombrio. Andréa Del Fuego, Giulia Moon, Miguel Carqueija, Bráulio Tavares, Octávio Aragão, Regina Drummond são alguns entre os autores que participam da antologia.


O lançamento será no dia 31 de outubro, em São Paulo, com  bate-papo sobre o seriado além da imaginação ( ah, que saudade) e outras atividades relacionadas ao universo fantástico. 
Mario, mesmo estando tão longe, agradeço pelo convite, desejo boa sorte e muito sucesso nessa publicação.

15 de out. de 2009

Outubro-me


Outubro-me


Hoje, leitor que talvez venha, talvez nunca, frente ao texto que agora teço, hoje tens, leitor, palavras de garganta embargada em complexa perplexidade, em tela e teclado vou fugir de mim e me encontrar.

Por vez primeira eis-me aqui, sem disfarces, apenas divagando a face sem retoques que aflora-me e burla do que tão serena finjo ser


Há tantas sombras e tristezas já tão minhas, frente ao espelho eu as vejo e dos lápis negros e toques de pincéis e beijos de batons que espiam-me, gargalham-me murmúrios de ancestral melancolia nestes traços de menina de irmã de tia de professora de mulher de amante de amiga e filha... de apenas verso e poesia.


Não, eis que nestas palavras não tratarei de um conto insólito, de viagens surreais, poesia sombria ou o terror que espreita e espanto em contos inquietantes. Tampouco tens aqui, leitor, minha face menina/mulher/poetisa, da experiência concreta ou retro, dos versos ternos, de tolas nostalgias, de amores vãos e sonhos que desvendam-me em verborrágicas  quimeras. Hoje, apenas palavras em desatenta forma.


É outubro e há na cor da tarde tanto lirismo que reconheço enfim: outubros coisificam meus sentidos. Dos anos cumpridos, fiz mais um. No aniversário dessa moça que me olha do espelho, murmuram verbos não conjugados, sonhos desfeitos e refeitos, vitórias, conquistas, derrotas e eterno recomeço. Escolhas que fiz, outras a vida fez por mim. Lunes era quando o calendário marcou trinta e três, a face no espelho espantou-se, depois riu, ano I, ano II, ano III e assim assim talvez... chama-se viver. É outubro, dia das crianças e nasci assim talvez sempre menina, mas marcado em nostalgia o caminho estendia-me desde sempre.


É outubro e também o mês para se comemorar o dia dos professores. Há o que comemorar nessa tensa e terna e amada e dolorida premissa que de sou ouvida e talvez na palavra com que compartilho/ensino/aprendo exista algum sentido? 


Eis que aprenderei a sobreviver aos outubros... a sobreviver a essa moça/face triste que questiona-me no espelho e diz-me ainda, vai assim ser indecifrada nessa vida


ou 



.... em braços dados em dados incertos de lances e relances seguiremos novos caminhos?

Há um aroma de café espalhando-se pela casa e tantos labirintos, há lá fora esse sol atordoante de outubro e certa brisa irrequieta brinca nos ipês floridos... Quedo-me aqui, palavras - nem mais tão minhas – em íris inusitadas vão. Eu? Apenas vou ali brincar de viver. 

Fotos: Horto Florestal,  no centro de Campo Grande MS, by Tânia Souza em 14/10/2009.


13 de out. de 2009

notívaga

notívaga 



ao sol que finda
marfim sanguíneo
de lascívia fome
antecipa e suspira
 
ah, sorver assim
embriagante vinho
de vida inebriado 

 selvagem espasmo
 
dentes lascivos
desvendam
frutas de carnes
sonatas de gemidos

ah, serpente esguia
lábios esquizofrênicos
eterna tautologia

olhar rubi
espreita a noite
terno e feroz, perfila
calçadas doloridas
sementes de vida

palpitam rubros anseios
ao luar argênteo
oferta
e oferenda
em febril sedução...

Tânia Souza

2 de out. de 2009

Carona

       "Seu futuro será de muita luz!" Disse assim a conhecida cartomante. "Basta seguir a estrada da vida"
 

       "Mas devo seguir a luz?"  ousei perguntar, olhos fixos no espelho da vida.
    

      "Eu nada mais posso dizer" e sorriu-me. Estranhamente sorriu e eu acreditei,     acreditei mesmo sabendo que ela me queria longe de seu filho.
 

       Segui a estrada em busca do destino, a única que conhecia, a estrada que  cortava a nossa vila todos os dias.
 

        "Uma carona, seu moço?"
 

        "Pode subir, mocinha."
 

       Jamais imaginei que se referisse às luzes do caminhão onde teria roubada a  vida naquela mesma noite, ainda na estrada. Estrada onde agora vago em busca  da luz à mim prometida no espelho da vida.
 

        "Uma carona?"

Sementes do mal - Por Tânia Souza

   
Sementes do mal

         Sim, ouçam-me mundanas e damas de vontade duvidosa, ouçam essa que vos fala em púlpito nefasto. Também eu conspurquei meu corpo e minha alma em pecado e devassidão, entanto,  tivera comigo nos caminhos de ignomínia e desonra promessas de régia recompensa.

Mãe! Seria a mãe de um príncipe, herdeiro e guia para muitos, edificaria um reino para o rei dos reis, ao meu amado; enfim, na noite onde o silêncio imperava e horrores insinuavam-se entre as árvores, entregaria este tesouro e teria enfim a recompensa. Eu seria rainha.

Tampouco importava a dor que me sangrava por dentro nos últimos dias, podia senti-lo revirando minhas entranhas, ferindo-me com unhas pontiagudas... Meus pensamentos estavam fixos no triunfo. Cercavam-me, em sonhos mórbidos, vultos e portentos; podia senti-los ao meu redor, no cheiro ocre e nauseante surgia e desaparecia conforme a dor voltava.

Eis então, era chegada a hora. Gritei ao meu amado e mestre que viesse receber a oferenda, o filho esperado, a herança, o caminho da nova era. Ouviu a Terra uma ópera crescente, como orquestra insana surgiam lamentos profundos, cantigas mórbidas. Uma fina camada de suor cobria minha pele quase translúcida, entre gemidos de dor e espera, vislumbrava faces cruéis nos recantos sombrios da casa abandonada onde, como animal, eu procurara abrigo. Eram vultos, brisas mórbidas, mãos que se estendiam em jubilo e depois se recolhiam. Faltava-me às vezes o ar perante a densa angústia que se espalhava, ouvia então o  choro de anjos meninos e sentia como se fora ali, entre as paredes mofadas, o nascer de toda solidão
           
 A dor tornara-se insuportável e expeli uma massa disforme de carne e massa que grunhia e debatia-se. Vi com horror a espinha retorcida, a pele disforme e nebulosa, de um rosto sem face abriu-se um único olho, amarelo e purulento, tomado pelas mais doentias infecções, entre as pálpebras necrosadas surgiam dentes lisos e brilhantes.  Arfei, a voz faltou-me e com as poucas forças que me restavam tentei afastar-me da criatura que lançava na noite vagidos horripilantes. Arrastando-se pelo chão imundo e sangrento, debatia-se em busca de ar, balançando inúmeros braços cobertos por pêlos cinza. Ah, o horror. Eis que chegara o rei e seu séquito e minha promessa não fora cumprida. Fora eu impura para tão nobre senhor.

Seu olhar ferveu em ódio e de um movimento brusco, feriu-me com unhas pontiagudas, lacerou meu ventre até que uma mistura de carne e sangue espalhou-se e para delírios e risadas dos convivas, a criaturinha recém parida lançou-se esfomeada aos meus dilacerados membros até ser levada com eles.

Eu fora inutilizada, a mulher em mim morrera para sempre. Este castigo eu merecera por minha inaptidão, sigo viva para cumprir meu destino, suja, maltrapilha, maldita; caminho em busca da noiva perfeita, não fora ainda nesse ventre dilacerado que  meu  príncipe encontraria nefando acalanto, porém, será no ventre de uma jovem como vós, perdida em eterna noite de sombras, que a semente de meu senhor terá abrigo e, enfim, seu reino será real. 




Nota da autora: este conto é uma obra de ficção, não traduz minhas crenças ou opiniões; qualquer semelhança com nomes, fatos ou pessoas reais é mera coincidência.


Conto de Tânia Souza

1 de out. de 2009

Tristes




tristes


vertida em cacos
sentidos quebradiços
em pergaminhos vagos
perdida estou
da palavra ferida
em febre
busco e rebusco
fragmentos de mim


campos outrora verdejantes
cobrem-se em cinzas
sol que foi-se embora
apagou-se o d’antes

e se o riso vem
enfeitar a face minha
Sinto n'alma que chorei
comigo enfim, tão sozinha

envolve-me em trevas
ironias, ásperas palavras
em eco sem tréguas
sangram asas dilaceradas
quedo-me aqui
embargada em agonia

indiferença que angustia
injustiça que perturba
punhal de verbos em vão
ata e desata-me
tece/destece solidão
por caminho:
melancolia
esquecida estou
do azul
da fantasia
ah, sigo trilces vias

tenho por leito
ceifadas flores d'alegria
das cores pálidas
pétalas rasgadas
restou-me apenas
face triste e sombria

olhos rubros já não vêem
estrelas que mumuram
na noite vadia
e eu tão vazia
quisera apenas nao ser
acolheu-me eterna noite fria

28 de set. de 2009

De rotos caminos despertar - Por Tânia Souza


De rotos caminos despertar

Son los dias hambrientos vertigos
La vida es pesadilla de raro despertar
Y no hay caminos sin dolores

Los suenos son solamente tesoros
Son los tienros mananciales
Donde borbullan sementillas de amores

Sentidos que no pueden vivir

Flores rublas cuyos destino es morrir


27 de set. de 2009

Ragnarok Halloween/ Renascimento de Avalon / Portal Celta - Três poemas de Félix Ribas


Ragnarok Halloween
Felix Ribas

Na Escandinávia
Sobre megalíticas ruínas
Dos campos de Vigrid
A cada novo aeon
Os espíritos das antigas
Feiticeiras nórdicas
Emanam-se aos campos
Batalha de Ragnarok
No anoitecer do halloween
Durante a aurora boreal
Esses malignos serem
São a Valhala invocados
Oh! Valhala antes altar de Odin
Salão de festa as festivas
Nobres almas guerreiras
Hoje serves ao próprio demônio
Como templo as bruxas
Nesta demoníaca noite dos mortos
Não há limites entre
O humano e o divino
Entre o céu e o inferno
Invocado a orla dos deuses pagãos
O senhor das trevas levara
Ao seu exército através
Do fogo dos céus
Aos guerreiros de Odin
Conduzidos por valquírias espectrais
Exterminarão aos dos mares do norte
As bruxas e os magos dominarão
As florestas, o tempo e a névoa
Invocando a Gaia
Todos os de Lúcifer
Que de cemitérios pagãos
Hão de erguer-se
E aos titãs e demônios
De hell e de tártaro
Dominarão as cidades
Neste obtuso halloween
Apenas sua fé poderá salvar-te
Nesta noite em que
Asgart e Midgart se tornam uno
Virá o novo Ragnarok
A terra dos humanos
Que sofrerão com a devassidão do caos
Durante o tríplice inverno
Mas aos que sobreviverem
Será lhes dada a bonança
De subir ao altar dos deuses
De viverem na nova Valhala
Com prosperidade e harmonia.

Para conhecer um pouco mais sobre Lendas e significados Halloween, consulte o blog Gótico Poemas, do poeta Felix Ribas.
Leia também : Renascimento de Avalon e Portal Celta

25 de set. de 2009

Antologia do Absurdo - Victor Meloni Publica Livro de Literatura Fantástica

ANTOLOGIA DO ABSURDO
Contos de Terror Impenetráveis
Contos do Absurdo. Histórias de terror impenetráveis. As linhas desta obra prezam pelo delírio de uma mente prenha de idéias à serem paridas nas turbulentas águas dos contos de terror, lugar assaz pertinete para as elucubrações que assaltam aqueles que estão irremediavelmente tomados pela literatura fantástica. O autor, Victor Meloni, é uma destas criaturas, e se atreve a levar ao leitor o resultado das vozes que o assaltam com inquietante regularidade.


Autor: Victor Meloni
Tema: Literatura Nacional, Ficção.
Palavras-chave: contos, terror.
Número de páginas
: 261
Edição: 1 (2009)
R$ 40,21

Contos: A velha; Akira; Amor, verbo intransitivo!; Ao par; Celeuma; Claire; Émile; Complexidade irredutível; Aminoácido; Mainstream; Cruel; Eclipse; Hipertrofia; Hormônio; Imanente; Insofismável; Lobo; Lux Ferre; Maria; Memeplexo; Monstro; Noite; O dente do tubarão; O improvável You-Koddlak; O caso; Pus; Sede; Eles; Tautologia; Uma evidencia Skinneriana; Uma refeição frugal; UNSUNG; Vendeta; Ventura e Vicissitude.

Saiba mais em : Clube dos Autores

...
Victor apresenta-nos um estilo único, em que o conhecimento da norma culta mesclado ao vocabulário raro - tão em falta nas obras contemporâneas - não impedem que o estranhamento impere e o suspense seja criado.

Ao contrário, seus contos são repletos de simbologias e, por vezes herméticos, porém, quando nos perdemos nas suas escritas, as sugestões fantásticas envolvem o leitor de uma forma que vemos a principal função da literatura em ação: perante suas narrativas não se consegue permanecer impassível, nos inquietam, assombram, questionam...

Parabéns e muito sucesso ao autor!

Tânia Souza

22 de set. de 2009

Um salto na Escuridão - Henry Evaristo publica seu primeiro livro

UM SALTO NA ESCURIDÃO
Contos de Terror e Solidão
Por: Henry Evaristo





Representante da nova literatura fantástica brasileira, o escritor Henry Evaristo é dono de um estilo universal de escrita que ora nos remete à obras do estilo gótico , ora nos faz lembrar as velhas revistas em quadrinhos de terror dos anos 70 e 80. Fruto da cultura pop, o autor lança mão de uma gama de influências que vão desde Lovecraft, passando por Arthur Machen, até Stephen King e Clive Barker. Tudo para compor uma atmosfera de puro medo capaz de fazer o leitor perder o fôlego e querer correr a verificar se as portas e janelas estão bem trancadas.


Autor: Henry Evaristo
Tema: Ficção.
Número de páginas: 198
Edição: 1 (2009)
R$ 38,93

Contos: A CASA DA RUA 18; A COISA NO JARDIM ZOOLÓGICO; A FAZENDA DOS FLORENCE; A INVASÃO DE SANTEREZ; A NOITE EM QUE VIESTE; ALGO SELVAGEM; CLÓVIS E O DESESPERO; CONHECER O MAL; ERASMO E A BESTA; FOGO-FÁTUO; INCIDENTE NA SERRA DE MARANGUAPE; MALAGHANI; MATILHAS; MELISSA; O ABISMO E A LUA; O DESTINO DO VENDEDOR DA AVON; O LUGAR SOLITÁRIO; O POÇO; O TEMPLO DA HAZAA; O VISITANTE DO ESCURO; OS PORTAIS DE ÉBANO; OS VENTOS DO URRADOR; PESADELO; REFLEXÕES DE GARDÊNIO; UM AMIGO; VAMPIROS DE MONDELLE e VIRGÍLIO.

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