Lebourreau, o bruxo astuto e poderoso, aproveita-se da dor e do desespero de uma mãe e, com a astúcia das sombras convence, deturpa, ludibria, engana, ah, mago cruel cruel. Conheça Lebourreau neste conto sombrio, melancólico e angustiante de Paulo Soriano, e lembrem-se, “Quando Deus nos abandona... Lebourreau nos assoma.”!
Quando Deus nos abandona
Paulo Soriano
Para Fernando Ferric.
As vigorosas batidas, que vinham da porta da cabana, deixaram o coração de Thérèse em sobressalto. “Quando Deus nos abandona - pensou Thérèse -, Lebourreau nos assoma.”
— Quem bate? – perguntou Thérèse, embora bem soubesse que Lebourreau, com a lanterna em punho, lançava a sua sombra maligna sobre os umbrais da pobre choupana.
Thérèse apertou ambos os filhos contra os seios, sentido-lhes a respiração quente e irregular, típica dos moribundos devastados pela peste. E, arrastando-se como podia, recolheu-se ao ângulo mais remoto da parede. “Quando Deus nos abandona - pensou Thérèse -, Lebourreau nos ilude.” O vento, que se esgueirava pelas frestas de adobe, trouxe consigo a voz calma e melódica do velho mago:
— Deixe-me entrar. Trago-lhe boas-novas!