22 de dez. de 2010

Contos Sombrios de Natal: E-book

O Fórum da Câmara dos Tormentos apresenta


 
Estas mentes sombrias da LitFan nacional espreitaram os mistérios ocultos sob as asas escuras dos anjos do Natal para transformá-los nas mais nefastas histórias natalinas.

Clique no link a seguir e prepare-se para um Natal inesquecível... e assombroso.

21 de dez. de 2010

É Natal!

Natal!
Época de paz, de harmonia, de luz... Quando todas as esperanças se renovam e...

Não!

Não quando os sombrios participantes do Fórum da Câmara dos Tormentos decidem voltar o olhar para o Natal.

 
Você será assombrado, 
espreite o que se esconde sob o manto da escuridão, identifique os sons das ruas, espie os corredores, feche as janelas e arrepie-se, pois escutar ho ho ho ho jamais será como antes.



23 de nov. de 2010

Anya, a Rainha das Sombras - Tânia Souza

Dedicado aos que partiram, entanto seguem conosco
 nas lembranças mais ternas


Ah, o amor, este sentimento tão cantado por poetas, sonho de noites solitárias e ilusão que acalenta vidas. Por amor, tantas espadas cantaram e o sangue se derramou; a vida se renova, as esperanças se tornam infindas. Por amor, a vida triunfa e a morte se concretiza. E por amor, a saga da humanidade se desenha em sonhos, tragédias e melodias. Mas esta não é apenas mais uma história de amor. As desventuras de Anya, A bela e Ulrti, O Valente, foram contadas por décadas no repouso das casas, à luz das fogueiras e nas longas noites dos viajantes. Duas criaturas condenadas ao mais profundo amor, duas crianças sonhadoras que vivenciaram um sentimento tão intenso e por ele, desafiaram os deuses por um amor que marcou a natureza, moldando os elementos com a sua intensidade, atravessando eras e espalhando pelo mundo a força desse sentimento.

Por muitos anos, se algum viajante se aventurasse pela paisagem absurdamente montanhosa a Oeste de Alfrumtt, poderia ainda encontrá-la. Cravada entre as sombras gigantescas e seculares, via-se uma cabana quase oculta entre as rochas monumentais. Naquele cantinho escondido, as Donzelas Sonhadoras viveram por longo tempo. Diferente das outras mulheres, isoladas, porém respeitadas, essas criaturas místicas dançavam em noites mágicas, com cânticos inebriantes e uma profunda ligação com os elementos, eram guias, detentoras de um conhecimento mais antigo que poderiam recordar-se. Rainhas de luz, nasciam predestinas e nas montanhas, encontravam o seu destino. Dos mais simples moradores das vilas a reis e príncipes, a todos elas atendiam. Entanto, a paisagem já não era a mesma, cinzenta e desolada, cercada por árvores mortas, revelavam a passagem de um tenebroso inverno.

Os murmúrios das noites mais escuras contavam que, quando o frio chegava, uma neblina a circundava e um véu parecia descer sobre a paisagem; nestas horas, até os corações mais endurecidos se comoviam com a tristeza do lugar, pois fora ali, nas elevadas esculturas rochosas que, num inverno triste e melancólico os dias choraram como há muito os homens já não viam.  O vento era então um lamento contínuo, que adoecia os solitários e cobria os viajantes com a insanidade.

16 de nov. de 2010

Instinto

Instinto
 
                                                              
      
       
          Era um vampiro clássico. Nascera em um ano medievo qualquer e desde então, entre caminhos de sombras e lamentos, fizera seu destino. Andar suave. Um dos predadores mais perigosos do mundo velho, porquanto refinado e, sob o fino verniz do charme e da elegância, ardia em lasciva sedução para então, desferir o golpe, o ataque letal consumindo em suspiros uma suave vítima.  Moçoilas, órfãos desamparados, mancebos imprudentes. Quando a caça humana se tornava escassa, caçava entre os animais inferiores, mas sofria um resquício de fome, gostava da essência febril, dilacerar a carne tenra e o frenesi da vida esvaindo-se ao seu beijo frio.

                                                  II

         Assim fora por muitos séculos de morte e eis que a noite o encontra caminhando às escuras. Em Londres, entre vielas sombrias, vultos obscuros e um cheiro rançoso de morte, ele caminhava. E sentia a força da fome. Muita fome. No entanto, a fera oculta rugia, pois sua sede não dependia apenas dele para ser saciada.

14 de nov. de 2010

Insana Paixão



Insana paixão



Ele estava morto, eu sabia, pois com mãos trêmulas cortei-lhe os pulsos, seguindo com os dedos as veias que apareceram enquanto ele fazia força para libertar-se; sabia com o gosto que ficara em meus lábios depois de beijar aquelas mãos que tanto amei, sabia quando lembrava-me do cheiro de sua pele enquanto minhas lágrimas misturaram-se ao sangue que derramava-se. Sim, estava morto. Eu o matei.

10 de nov. de 2010

Noturna



   









noturna

     mea culpa
     culpa mia
     mia a culpa
     mia
           mia...

     mia no telhado
     dor que é só minha

              

8 de nov. de 2010

A rainha do inexorável - Por Tânia Souza


            Talvez seja ela, a morte, a responsável por um dos principais medos e mistérios que a humanidade enfrenta. Na história do ser humano, a morte é a aproximação do inexorável, oprimindo os sentidos e sentimentos. Pode ser temida, ignorada ou desejada. Liberdade ou prisão... O fim de um desperdício ou a concretização de um caminho bem feito. Inesperada, provocada ou procurada. Bela, triste ou violenta. Ser solitária ou compartilhada. Trazer alívio, saudade ou paz

5 de nov. de 2010

inmortal


y a menudo
cuando el domingo duerme
y la lluvia juega en el cielo oscuro
yo pienso em ti
aun que insensata sea
a Dios le pido
tus ojos risueños
languidecientes melodias
en sueños de Vangelis e poesia
  
en sagrada magia
estrellas iluminan mi oscuridad
no hay vida
y no hay muerte
destejido el camino de la soledad

y en la embriaguez de la fantasia
                   el tiempo es roto
         la distancia es nada
son tuyos mis besos
y en mis brazos tu haces morada


voy tejiendo noches de acalanto y melancolia
en sueños de Vangelis e poesia

2 de nov. de 2010

A Morte sentou ao meu lado - Por M.D. Amado


M.D. Amado

Hoje acordei ao seu lado e senti seu hálito em meio ao vapor do banho quente.

Hoje eu não quis tomar café. Tinha um gosto fúnebre na boca. Um odor de rosas mastigadas invadiu o escritório. Ouvi seus passos, nas batidas de uma porta mal encostada, que dançava com o vento. Não, não senti suas mãos.

Disse aos amigos o quanto os amo. Sabe-se lá de onde veio essa vontade... Resolvi perguntar, já que ela estava ao meu lado.

“Veio de você?”

A Substância - Por Paulo Soriano

Chamo-me Victoria Birth Hatherly e meu pai acaba de ser enforcado, após três meses de reclusão e um julgamento tumultuoso.

      Ontem à noite, os verdugos permitiram-me, finalmente, visitar o meu pai.  Ele estava bem mais sereno do que eu podia esperar.  Deu-me um beijo de despedida e depositou em minha mão uma longa carta.   Disse-me que não dispunha de tempo suficiente para fazer, pessoalmente, as incríveis revelações que, ao longo de dois dias, freneticamente entornara na missiva. Pediu-me, apenas, que lesse a carta com a maior urgência possível, porque eu estava circunscrita por um grande e iminente perigo.


Travessia

Foi com olhos quase tristes que ela disse:
- Ele se foi para não voltar, esqueça!
Quis chorar, depois estendi as mãos e pedi:
- Deixa eu ir também?
- Não pode, a travessia é de solidão.
- Mas a minha começou tão cedo... e tem sido longa demais...

Mesmo assim a morte se foi sem mim.

Só espero - Por Angel Ruiz

Estou aqui, apenas esperando que tripudie, que pisoteie meu crânio e ria novamente.
Apenas esperando que sambe encima desse corpo morto
Que cuspa no caixão aberto
Que corte a carne ainda fresca da morte recente
Frite e coma esse coração magoado e amargurado pela perda e pela solidão.
Faça isso com todo o prazer... Com amor e ódio...
Em nome de todos os seus martírios
Arranca fora esses olhos que choram agora
Deixa as lágrimas se misturarem com o sangue a correr livres
Deixa-me chorar todas as dores e mágoas que tenho em mim
Quem sabe assim elas cessem.
Espero ainda que me deixe morrer aos poucos, cega para o mundo...

1 de nov. de 2010

Ampulheta - Por Flávio de Souza



A chuva gelada, que caía lá fora, não amenizava a temperatura elevada de seus pensamentos. Vivian olhava através do vidro da janela e pensava sobre uma fórmula mágica que pudesse livrá-la da situação difícil na qual se encontrava.

Sempre fora uma garota muito cética. Crendices e superstições nunca fizeram parte de seu estilo de vida, nem mesmo o horóscopo do jornal de domingo lhe atraía. No entanto, os acontecimentos dos últimos dias fizeram com que ela repensasse a respeito de suas próprias convicções.

Até um mês atrás,  Vivian seguia a rotina que marcava a sua vida, sem maiores problemas. No entanto, a incerteza selvagem, a qual assalta de súbito a todos aqueles que caminham pelas ruas das grandes cidades, resolvera apanhá-la em um desses momentos que julgava tão comum.


Fúnebre - Por Adrianna Alberti

Aos senhores aí distraídos:
Aviso!
Adormecem sob meus restos
Mas não percebem e não sentem.
Apenas cuidado onde pisam
Fiz desse chão banquete aos vermes
Fiz desse sereno minha última morada
Perdoem meus os trajes.
Apenas cuidado!
Não profanem meu descanso.




Ela - Por Luiz Poleto



Sentada naquele banco, ela contemplava a imensidão do lago à sua frente. A tonalidade escura parecia exercer algum tipo de fascínio nela, que todo dia estava ali, sentada. Ao fundo, no horizonte, a imensa cadeia de montanhas rodeava o lago, quase formando uma prisão natural.

Todos os dias, algumas pessoas chegavam, algumas parecendo desnorteadas, e paravam na beira do lago. E ela levantava, fazia um sinal, e as pessoas a acompanhavam. Algumas relutavam, mas por fim, por não terem lugar aonde ir naquele imenso deserto, acabavam indo também.

Sem dar uma palavra, ela as guiava até a outra extremidade do lago, onde a água parecia mais escura do que antes, e, em movimento das mãos, as águas se afastavam – como em um gesto bíblico – e revelavam uma escadaria, que descia para dentro do lago até onde a vista alcançava.

Meu, Seu - Por Susana Lorena


Meu
O sorriso, o abraço
o beijo, o carinho
Seu
A frieza, a indiferença
Esquivar, soltar

Meu
A pergunta, a dúvida
a insistência, a espera
Seu
A resposta, a calma
a traição, o basta


Meu
Mais perguntas, mais dúvidas
a tristeza, a raiva
Seu
O ponto final, a decisão
O olhar, a sinceridade

O Lamento da Carne - Por Celly Borges


   









O Lamento da Carne

Na noite em que a mente implorava o eterno descanso,
minha única visão do imundo se fechou, cedendo o curso
ao verme que se desenvolve, propaga-se
na matéria orgânica em decomposição que sou.

Sina

Sina

Um roto andarilho
Pedia-nos a licença
De uns versos contar
Enquanto o navio
No porto aguardava

E frente a espera ociosa
Lúgubre cantilena tomou lugar

Falou-nos o cantador
De mórbida noite
Onde embriagado
Em velha taverna sonhava

Quando ao vento mais forte
Um violinista triste chegou
Versos tristes a declamar

Era o violinista poeta
Servo da escuridão
E em macabro oficio
Seguia em poemas
De severa desolação


31 de out. de 2010

Quando Deus nos abandona - Um conto de Paulo Soriano

Lebourreau, o bruxo astuto e poderoso, aproveita-se da dor e do desespero de uma mãe e, com a astúcia das sombras convence, deturpa, ludibria, engana, ah, mago cruel cruel. Conheça Lebourreau neste conto sombrio, melancólico e angustiante de Paulo Soriano, e lembrem-se, “Quando Deus nos abandona... Lebourreau  nos assoma.”! 


Quando Deus nos abandona
Paulo Soriano
 Para Fernando Ferric.

As vigorosas batidas, que vinham da porta da cabana,  deixaram o coração de Thérèse em sobressalto. “Quando Deus nos abandona - pensou Thérèse -, Lebourreau  nos assoma.”
— Quem bate? – perguntou Thérèse, embora bem soubesse que Lebourreau, com a lanterna em punho,  lançava a sua sombra maligna sobre os umbrais da pobre choupana.
Thérèse  apertou ambos os filhos contra os seios, sentido-lhes a respiração quente e irregular, típica dos moribundos devastados pela peste. E, arrastando-se como podia,  recolheu-se ao  ângulo mais remoto da parede. “Quando Deus nos abandona - pensou Thérèse -, Lebourreau nos ilude.” O vento, que se esgueirava pelas frestas de adobe, trouxe consigo a voz calma e melódica do velho mago:
            — Deixe-me entrar.  Trago-lhe boas-novas!

O Sétimo - Por Celly Borges


Entre pactos e maldições, vertiginosamente nos vemos em um cenário noturno na floresta, onde acontece um pacto das sombras em meio ao círculo de fogo. Assim conhecemos  O Sétimo, um conto macabro e assustador de Celly Borges.


O Sétimo
Celly Borges

Numa noite muito quente, Ronald derretia de suor em baixo daquela túnica e do  capuz. Queria levantá-lo para enxugar o rosto, mas Joana, sua esposa, o impedia  segurando-o pelo braço a cada movimento involuntário de levá-lo à face.
Agora era tarde, pensaram simultaneamente, enquanto olhavam em volta, estavam reunidos em um círculo em uma clareira no meio da floresta densa, com outras cinco pessoas cada uma segurava uma vela. Formavam a união das Sombras. No centro deste círculo, uma fogueira, que iluminava mal e tornava tudo muito sinistro.
– Irmã Joana, chegou o momento, ao lado da fogueira, dois membros da seita estenderam um colchonete, para aproveitarem aquela luz.
Joana olhou para Ronald, que segurou as mãos dela, e a levou até o colchonete. Ela apertou a mão do marido, muito forte. Já não tinha mais certeza se ainda queria aquilo.

Missa Negra - Por Pedro Moreno



Missa Negra

Por Pedro Moreno


Apesar do frio fora do esgoto, dentro dele estava aquecido, talvez por causa das chamas das velas que afastavam a escuridão física do local.

Sim, eu disse física.

A escolha do esgoto não fora aleatória. Quantos amigos você conhece que frequentam os subterrâneos da cidade? Nenhum? Claro, esse era o propósito. Apesar de existirem as missas negras, digamos que elas não são tão bem quistas pela sociedade.

O BEIJO - Por Susana Lorena


         Um conto envolvente, que transporta o leitor para outras eras, onde perseguições, magia, fanatismo e seduções decidiam destinos. Leia e viaje para um universo distante neste conto deliciosamente sombrio de Susana Lorena.


O BEIJO

I

      — Ela não deve permanecer aqui! – Ele repetiu a frase mais uma vez.
      — Você se refere a um enterro cristão? – O padre perguntou incrédulo.
      — Não! Eu digo na floresta ao norte da cidade.
      Um silêncio reinou na sala onde se reunia quase todos os aldeões da comunidade. A pauta da vez: Um jovem, Lúcio, queria impedir que uma jovem, Serena, fosse queimada sob a acusação de bruxaria. Não que ele quisesse que ela fosse poupada. Sua idéia era de que a moça fosse enforcada e enterrada, longe da vila, mais precisamente dentro da densa floresta que cercava três quartos do lugar. Tudo aconteceria no dia seguinte e as coisas estavam longe de acabar.
      Lúcio tentou convencer a todos de todas as maneiras:
      — Se nós a queimarmos, suas cinzas continuaram aqui. – disse ele.

Bruxas - Um conto de Flávio de Souza

"Bruxas" Um conto de Flávio de Souza!
Revisitando o tema da bruxa como clichê literário, o autor apresenta-nos este conto inusitado, entretanto, sem fugir dos desatinos e malefícios que um bom conto  fantástico deve conter. Clichês podem ser inspiradores!!!!! Tenham todos uma leitura sombria.

Bruxas
Flávio de Souza

          Os braços da mulher estavam em carne viva. O sangue dos novos ferimentos se misturava às manchas pegajosas daquele que já estava ressequido. Eles não tinham pena, a misericórdia não habitava seus corações. Sob chutes, xingamentos e pedradas, ela era arrastada para o centro da praça. Os grilhões que prendiam seus braços e pernas, não lhe davam oportunidades para fuga. As correntes pelas quais era puxada, produziam uma sinfonia macabra no contato com o chão.

Não se trata de nenhum vilarejo europeu, que nos remeta à época da Inquisição, longe disso, o local nos é bem mais próximo, mas ao que parece, a tradição, esta sim, é bastante semelhante aos antigos hábitos, o diferente é maldito e, portanto, merecedor de punição.

MACBETH - William Shakespeare - ATO 1 - Cena 1


MACBETH
William Shakespeare
ATO I
Cena I

Lugar deserto. Trovões e relâmpagos. Entram três bruxas.

PRIMEIRA BRUXA - Quando estaremos à mão com chuva, raio e trovão?
SEGUNDA BRUXA - Depois de calma a baralha e vencida esta batalha
TERCEIRA BRUXA - Hoje mesmo, então, sem falha.
PRIMEIRA BRUXA - Onde?
SEGUNDA BRUXA - Da charneca ao pé.
TERCEIRA BRUXA - Para encontrarmos Macbeth
PRIMEIRA BRUXA - Graymalkin, não faltarei.
SEGUNDA BRUXA - Paddock chama
TERCEIRA BRUXA - Depressa!
TODAS - São iguais o belo e o feio; andemos da névoa em meio. (Saem)

16 de out. de 2010

Dança Profana


Dança profana


Era noite de todos os santos
Pulsavam-me tantos demônios
De vinho e ópio entorpecido
Em orgíacas celebrações

Notas de raras canções
Voláteis pelas ruas seguiam
Meus passos embriagados
Embrenharam-me estranho salão

14 de out. de 2010

A LitFan agradece

A imaginação, a fantasia, o terror, a ficção científica, os mundos e submundos inventados ou jamais sonhados  se estabelecem em nosso cenário literário.  Personagens sombrios, encantadores e criaturas raras nos encantam e assustam. Os nossos mitos se renovam e ganham espaço. A LitFan agradece.

Leia esse texto na integra no meu novo blog À LitFan

12 de set. de 2010

enquanto chove



enquanto chove

eu gosto das chuvas entardecidas
quando caem de repente as águas do mundo
e me vejo surpreendida e derretida
menina mulher femínea

a chuva então me chove
e vou andando pelas calçadas
vendo a noite chegar
vendo o breu me aconchegar

faróis iluminam asfalto em dourado
desimportam minhas roupas coladas
não há lascívia nem pudores
sob asas invisíveis de anjos molhados

vejo passos insanos por ruas desnudas
cada qual perdido em si
paixões repentinas retidas refletidas
nas poças d´gua quebradiças almas
tristeza maior não vi

e no asfalto molhado
algum resquício em dourado
sob a luz de um poste reflete
sonhos que ainda persistem
nem sabem que inexistem
em mundo esquecido de sorrir

trilce lantejoula em falsa jóia
tolo ouro de uma moça sonhadora
tecendo quimeras
sob a chuva o dourado das luzes
talvez flores sejam
d’alguma primavera
enquanto a noite escorre pelos becos

e quando do abismo escuro a água desce
a chuva me chove e chovo e choro
a tristeza que minha alma tece
deságua e quer voar
e vou por ai, aprendendo a chover
por um alvorecer que nem sempre vem...


Piedra negra sobre una piedra blanca - Cesar Vallejo


 Cesar Vallejo - Poeta

Piedra negra sobre una piedra blanca

Me moriré en París con aguacero,
un día del cual tengo ya el recuerdo.
Me moriré en París -y no me corro-
talvez un jueves, como es hoy de otoño.

11 de set. de 2010

Espectro - Tânia Souza

Espectro 
Tânia Souza

Da serpente, eu quis a lábia
Ser o pecado a tentação
 
Da águia, a visão
O bote e a precisão
 
Da coruja, a sabedoria
A calma e a decisão


Mas restou-me do destino 
A carne pútrida
A gripe o vírus a febre
 
E esta cara de abutre
A espera dos dejetos
Das feras da terra



Para meu amigo Boi ( Luciano Alencar )

De cinza e brisa - Tânia Souza

de cinza e brisa

e numa tarde azulêncio
cinzas na brisa

são texturas de veludo
desfazendo-se ao tempo

e nas chamas que findaram
solidão no crematório

numa tarde qualquer
o infinito se faz
de cinzas
azul
e silêncio
nas mãos de uma menina
brincando de viver

em tantas ternurinhas
o sorriso da morte

3 de set. de 2010

Ah, sá moça, sei falar de amor não

Ah sá moça, não sei disso de amores não
Nas meninices até sonhei
Essas suspiranças vem da saudade de um certo moço
Moço bonito de um olho mais azul que nem sei igualar

Naquelas épocas o sol ainda aromava dourados em mim
Foi quando comecei a sonhar azulêncios
Foi quando vi os olhos tristes de Antônio,
Peão guapo que só, na laçada não tinha igual

Mas dia que as mãos e calos do Tonho
Brincaram nas minhas tranças
Voz macia falou baixinho
Teus cabelos são trigo e ouro Maria
E o solzinho da tarde indo embora
Riso dele calou dentro de meu coração pra sempre sá moça

Mas feito ferroada de mosquito brabo
Que me sarou o relho do pai, marca tenho na carne até hoje
E o sangue do Tonho faca levou, pai limpou na chaira
Nossa terra bebeu não

Foi a febre sá moça
Dia e noite de choro e um escuro aqui dentro

Depois? sei não
Ah, depois foi o depois
Tempo que vai e que vem
Moça não desobedece a pai não, sabe
Tempo trouxe quase esquecimento
Quase....

Escuro aqui vez em quando volta
Saudade vem sempre
Quando dia vem caindo assim devagaroso
Sol meio aquarelando o rio
Ah saudade doída doída
Do que nem sei nem vivi
Daí é a febre sá moça
É a febre
 

E o riso do Tonho ri aqui dentro
Tal qual naquele dia
No campo de trigo
Bem pertinho do pôr-do-sol
Isso a faca do pai não levou

Levou não...

28 de ago. de 2010

Meu nome é Ana e eu vou matar você


Meu nome é Ana. Eu vou matar você. E prometo, você vai gostar.

Ana. Um nome simples para uma garota comum, caminhando pelas ruas de uma cidade esfumaçada e suja. Ao mundo, sou a imagem de uma garota que vaga na noite escura e conta outra sina, menina de família, comportada Ana se arriscando por lugares obscuros. A quase inocência costuma ser um atrativo interessante. Você me olha e vê uma moça que estudou, mas não muito, deduz que vou me casar com um bom rapaz , que devo ser apenas mais uma Ana e, quem sabe um dia, esposa, mãe, avó . Talvez o que veja seja apenas uma boa menina, com vontade e desejo de se arriscar.

Os seus olhos e os olhos do mundo não me vêem: não como uma andarilha; não essa criatura perversa, lasciva, sedenta de sangue e vingança; não uma moça que se esconde nas sombras; não uma arma. Não como de fato sou.

Mas é agosto. E devo pagar minha dívida. Agosto tem cheiro de sangue, de carne e desejos inconfessos. Quando agosto chega, desperto em minha sina ancestral. Sinto então os sonhos mais secretos de cada um e meus seios estremecem na ânsia de uma missão que outrora me causou tanta dor. Quando agosto chega, é hora de caçar.

Meus saltos ecoam na calçada e os olhos mortiços da noite me seguem. Essa cidade tem cheiro de fuligem. Eu gosto do cheiro infecto destas ruas. Mas não devo ficar aqui por mais tempo. Vejo a cidade uivando entre as luzes e sombras... Os passos dessa gente carente, perdida entre concreto e metal retorcido, olhos embaçados com tanta sede e vicio me buscam e ainda que não saibam, me imploram a cada dia. No entanto, você foi o escolhido. Sinto sua alma percorrendo-me e suas paixões me renovam. Eu sou a faca, a arma apontada para seu peito, a lâmina que vai dilacerar sua carne. Mas ainda assim você sorri e vem a mim. Entregue. Dócil.

Meu nome é Ana. Eu vou matar você. E depois, bem depois verei por onde vou... Não é minha escolha matá-lo. Nunca escolho e aprendi a não negar, a dor é muito forte. Eu não gosto da dor. Bem, talvez goste, um pouco. Afinal, é agosto e para meu gosto, o seu. É o tempo de caçar e pagar a minha divida. É agosto.

Você tem os olhos do mundo, agora fixos em meus lábios e, olhando para minha boca, ri quando digo que sou perigosa. Sim, já lhe disse que sou perigosa. Não gosto de mentir. Você sorri e não acredita, acariciando minha face. Você vê apenas a beleza que Ele me deu. Toca em meus cabelos vermelhos, tão preso em meus olhos verdes, bonita sim, quase nem creio no espelho. Bonita e letal.

Eu bebo seus gemidos quando minhas unhas rasgam sua pele e ainda assim, me implora por mais. E quando minha língua lasciva sorve suas lágrimas, seu sangue sacia minha sede em sua carne morena. Enfim, por alguns dias você é meu, totalmente meu. Pois é agosto e Ele espera por você.

Quem eu sou? Não importa baby, sou um anjo de asas dilaceradas.   Alguns me chamam infâmia, insanidade, epidemia, desgraça, peste, raiva, desgosto. Mas meu nome é Ana.

27 de ago. de 2010

Crepúsculo










Tinta do sol caindo
No rio aquarelou tristezas

Tudo tão bonito
Tanto que dói
Disseram ser poente

Mas parecia poesia

26 de ago. de 2010

noturna


noturna

luar de febre e açoite
tangendo crueza e frio na noite

feito farol ferido
em cílios curvos de tempo e rímel
 luar refletido


caninos de súbito aflitos
olhos mortiços
a loba uivou longamente
de fome e fúria e dor o seu gemido

noite enluarada
fera e bela
nalguma esquina
caça ou caçador
... vaga quimera

e depois?
e depois nada
 eco de saltos na calçada

estraçalhados cristais
luar no asfalto
 sorve ilusoes quebradas
 
ri lejana e fria a lua
alma devassada e nua

é noite
e criaturas vagam
reluz a solidão da rua

algum resquícios de febre
em rubro luar
enquanto ela se vai
pés descalços
se vai
insaciadamente
 se esvai