6 de nov. de 2011

Quando chorar é uma opção

Inadequate child - Berk Öztürk

A solidão não é tão bonita quanto nos livros.
A tristeza nem sempre se recolhe em abraços.
Nem todas as lágrimas morrem em beijos.
E nem sempre as palavras ditas, ouvidas ou escritas, têm poder de curar...

Para dias de chuva e outras melancolias
Ou quando chorar é uma opção

Tânia Souza

Não chore! Enfrente! Recomece! Ignore! Siga em frente! As coisas vão melhorar!  Erga a cabeça, é hora de recomeçar...

Palavras... algumas mais delicadas, feitas de vocábulos tecidos em abraços e lenços, outras, se fazem ásperas, vestem faces duras e frias e avisam: choro é para engolir. Lágrimas são sinais de fraqueza.

Palavras, palavras, palavras... e toda uma semântica de sobrevivência.

E a menina que teve o azar de nascer com um imenso e grave caso de sensibilidade um dia cresceu e descobriu que ser sensível demais não é uma boa estratégia. Quando a alma está estilhaçada, melhor sobrevive o rosto em máscara.

Depois, a mulher do agora descobriu que chorar é se por em evidência, chorar é permitir acesso ao mais íntimo da dor ou da alegria, e um dia, finalmente, ela abandonou a menina e aprendeu a não chorar. Por que chorar é ser vulnerável e ser vulnerável é... é ser vulnerável.
E isso, as vezes dói.

Então, ela se veste de forte. É seguro, mas extremamente solitário ali, no cantinho secreto onde a sensibilidade insiste em sobreviver. Alguns dias, os ombros doem, há decisões a serem tomadas, pessoas que pedem colo, nãos e sins esperando para serem ditos... ela bem sabe, isso se chama viver. Também sabe que alguns amigos gostam apenas de sorrisos, tristeza pode ser um interessante repelente. Há também os que se alimentam dela, tão opostos e tão iguais. Alguns poucos são para todas as horas, mas que raros são.

Há também algumas pessoas que podem, e gostam, de ferir as outras! E chorar ou não, não vai impedi-las. Mas ainda assim, persiste. Sorria e siga em frente, algumas vezes ela ainda repete o mantra, abismada consigo mesma por ensinar a mesma lição. Saber todas as cores da indiferença ela não sabe, pensa apenas em sobreviver.

Mas um dia, a força não adianta, o sorriso quer se esconder e os olhos não seguram mais. As lágrimas são assim, de certa forma, independentes. As dores guardadas, a indiferença, os resquícios de algumas tristezas são tocados por situações inesperadas. Assim como há vida, há morte. Assim como se está bem, pode ser estar enfermo, triste ou frágil.

E quase com vergonha, ela percebe que nada lhe resta a não ser chorar!

As lágrimas caem. O nariz fica vermelho, a boca inchada. E ela não tem onde se esconder. E o pior? Outras faces com lágrimas esperam por ela, pelo sorriso e pela força dela. Parece terrível. E é! Mas o sorriso se perdeu, ela sabe que velhas palavras soam vazias.

Então, ela descobre que chorar também é uma opção. Para disfarçar a dor, fala de si em terceira pessoa, mas está reaprendendo que lágrimas compartilhadas ainda doem, mas talvez assim, sejam mais fáceis de secar. Pois, por mais que tenha aprendido a esconder, a menina insistiu em sobreviver.

A solidão não é tão bonita quanto nos livros.
A tristeza nem sempre se recolhe em abraços.
Nem todas as lágrimas morrem em beijos.
E nem sempre as palavras, ditas, ouvidas ou escritas, tem poder de curar...

Mas algumas vezes, essas coisas desimportam e de um jeito ou de outro, é preciso continuar.  

8 de out. de 2011

Estilhaços



Estilhaços

Cacos. Os pedaços do espelho estão sujos, marcado pelo tempo. Assim como o rosto refletido.  A mulher não se reconhece na nudez do reflexo. Cabelos oleosos caem, ralos e desordenados, ocultando seus traços. Olhos grandes, circundados por uma sombra escura, não escondem: ela tem medo. E cansaço. 

Quando ergue as mãos e toca os longos fios, eles se soltam e caem por entre os seus dedos. Ela sorri com tristeza, a mão desce e com suavidade passeia por onde antes existiam curvas e sente os ossos pontiagudos, parecem perfurar a pele de dentro para fora.

Um ruído interrompe seus devaneios e um rato minúsculo percorre o aposento. Fome, sim. Forças para caçar, não. Um desperdício, já não havia tantos ratos na velha habitação. O camundongo se foi entre os detritos.

Ela sabe que é fraca. Sempre o soube. Fraca demais para o combate, fraca demais para desistir. Mas a face refletida nos cacos do espelho está decidida. Uma faca do mais puro aço reflete a luminosidade que vem lá de fora. O aço brilha como seus olhos. Suavemente, ela encosta a lâmina nos lábios, ainda atenta ao espelho. Um beijo gelado,  murmura. E ri.

“Essa gracinha pode durar muitos e muitos anos. E salvar a sua vida, meu amor. Limpeza, amore, é preciso lavar com cuidado, secar, não deixar em contato com outros metais e nunca, nunca expor ao fogo.”

Ela gosta do contato frio contra o mormaço em sua pele. Sente a lâmina afiada e, de olhos fechados, imagina seu sangue escorrendo sobre o aço com delicadeza. Os dedos adivinham o cabo de marfim, a parte serrilhada, e a unha raspa a ponta perfurante. Linda! Letal! Riu novamente.

Houve um tempo que rir era comum. Como quando ouviu pela primeira vez falar no fim. O fim dos tempos, o fim do mundo. Depois, toda a alegria se fora.

Decidida, a moça ergueu a faca. As longas mechas caem pelo chão. Os cabelos vão sendo cortados sem rumo até ficarem mais ralos. Não fossem os seios miúdos, poderia ser tomada por um garoto. Mas é justamente o que ela deseja.

Ela nunca acreditara no fim. E estava certa. O fim realmente não havia chegado. Não para ela.  É uma sobrevivente, pois para desistir, também é preciso coragem. E isso, a garota nos cacos do espelho não tem.

Fraca demais para desistir
Fraca demais para morrer...


Continua...

19 de set. de 2011

Angel - Marcio Renato Bordin


Angel

Um conto de Marcio Renato Bordin

No balcão, os bêbados gritavam pedindo mais uma dose, cambaleantes nas próprias pernas. Uma mulher vestida em farrapos, parada na rua segurava os filhos barrigudos pelas mãos e camisas enquanto gritava pela alcunha de seu marido... Um dos bêbados... Fosse qual fosse, nem se dava o trabalho de olhar para a porta. 

Uma dupla sertaneja de quinta categoria cantarolava mais uma música de seu repertorio brega. Aquilo doía mais nos ouvidos do que os gritos histéricos da maltrapilha esposa lá fora.

N’uma mesa em minhas costas, um grupo mais jovem jogava truco enquanto enxugavam caixas e caixas de cerveja...  Esmurravam a mesa aos berros, subiam nas cadeiras, xingavam e riam... Minha cabeça parecia que iria explodir a qualquer momento.

Era noite de sexta-feira. Só queria tomar algo para relaxar o corpo da estressante semana que findara. Parei no primeiro bar que encontrei. Bebericava minha cerveja no balcão. Um copo n’uma mão e um cigarro na outra. Estava ao lado dos bêbados, de costas para os jogadores, perto dos músicos... Nunca tive tanta certeza de que o inferno existe, e eu estava nele.

Ráptus: s. m.

Psiquiatr. Impulso violento e brusco que pode levar um homem a um Ato violento fazendo-o perder o controle sobre si próprio.

Eu estava prestes a sentir na pele o verdadeiro significado dessa palavra... Ráptus.

10 de set. de 2011

Das realidades

— Vamos brincar? Eu tenho um coração!
— E eu tenho uma
faca.

 

Tânia Souza

6 de set. de 2011

de(s)caminhos

sigo descalça entre corpos e sonhos depedaçados
sentindo entre-os-dedos ausência de verve vida
há pedras, espinhos e ferrugem
guiando estes passos bêbedos e famintos

chove agora num lugar qualquer
dançam violentas sob carne e esperança
velhas lágrimas desperdiçadas

unhas e esmaltes descascados de outrora
sobre os destroços da última guerra
 asas cortadas sob agônica aurora

ainda há flores no caminho
ah, estas pétalas sanguinolentas
ferem de espanto minhas iris
farpas em cilios quase adormecidos
       
ácida e lasciva cor em boca-e-dente
estilhaça meus sentidos
resquícios de sonhos e gemidos

sigo em pés desnudos e lamento violino
esqueço-me, anjo perdido em ancestral batalha

5 de set. de 2011

fome

sinto seu cheiro e o instinto só me conta
da minha fome
fome fome fome

entremeusdentesuacarne
fome fome fome

e voce escorre nos meus lábios
é tao quente baby
ah como eu quero
e meu sangue se aquece
ah, é tão quente e seu cheiro me apetece
fome fome fome

minha lascívia se embriaga em sua saliva
minha rosa azul
queimando mundo em blues

e sua alma é tão doce
que uma lágrima triste queima pele fria
e lembraria com saudade
essa alma já foi minha

você é tão doce
em minhas sombras sua luz

me dê sua boca baby
            sua pele a minha febre
                                     a minha sede  
                                                 a minha verve

mas a fera ri e saliva em fome
fome fome fome
e minha lascívia se embriaga de sua saliva

e seu coração é tão doce baby
escorrendo em meus lábios
derramando-se rubis em minha pele

e o vento em seus cabelos só me trazem o seu cheiro
e o vento em minha face só me beija o seu cheiro

o luar argênteo ri e debochada a fera espia
e das sombras os dentes dilaceram a alma

eu sorvo sua lágrima
ela é tão quente baby
quando você morre
sou apenas sombras

e o seu gosto é tão doce ferindo
minha garganta embargada
dilacera meus ossos
e encontro-me em sombras

violinos baby
violinos choram
e suas lágrimas ainda queimam
minha pele fria
fria
fria
enquanto morre a alma minha

os ponteiros tristes de um relógio insano giram
ao som de violinos violentos
violinos que choram baby
em meus seios pálidos palpitam sombra e solidão
e suas lágrimas ainda queimam minha face
minha pele fria fria fria
enquanto morre alma minha

3 de ago. de 2011

Agosto, e o despertar de um certo gosto...

Agosto, e o despertar de um gosto

foi num agosto qualquer
madrugada áspera nascia
aquela miúda Maria

bem filha de seu avô
  pequeno fruto de dor
vida veio ao mundo
  envolta em trapo imundo

alma solitária e faminta
que de triste e aflita
cobraria o preço
de tão cruel desapreço

e a mãe/menina
com fome, frio e doentia

fitando os seios infantes
 ninava a boneca que chorava

e no coração ferido
da infância roubada
medo de quem lhe oprimia
e piedade pela pequena Maria

e por 12 noites mãe e filha

duas crianças choravam
mas a sexta 13 chegou
na madrugada fria
com sede, lascívia e crueldade
a antiga fera/avô despertou
na face da menina
   e na foice afiada
 vingança se revelou

descobriram rubro alimento
  naquele que lhes fora tormento
a lamina afiada descobrira
néctar para muitos e muitos dias

e de tão rubro sabor
este vício seguiu pela vida

de razão tão ausente
fruto de uma vida demente

e a cada aniversario de Maria
três entram na pequena choupana
em festa insana e profana
somente mãe e filha saem de lá
vingança, saciedade e paz


pela eternidade?
ou até outro agosto chegar

Por Tânia Souza

15 de jul. de 2011

Nana neném que a Cuca vem pegar - Criaturas do nosso folclore V

Ah criança, faz assim não. 
Lá fora, não é vento o que você escuta.
É a Cuca. 
Tânia Souza 

Assim como o Bicho-Papão, o Velho do Saco e outras doces criaturas do folclore, a Cuca surgiu para assustar a criançada. Principalmente, as mais teimosas e arteiras. É, não é fácil ser uma criança criativa quando esses seres lendários andam por perto.  

Criança sem sono? Pois o trechinho da cantiga garante o sono... “nana neném, que a cuca vem pegar...” só não garante que os pesadelos não venham. Afinal, “o papai ta na roça, a mamãe foi cozinhar,” e quem quer que seja que esteja cantando, não está muito interessado em ficar acordado, portanto... Quem gostaria de esperar para vê-la? 

Além da aparência metade mulher, metade jacaré, famosa pela versão televisava do Sitio do Pica-Pau-Amarelo, conforme o local onde ela reina, assume diferente aparência. 

Uma velhinha descabelada, corcunda, enrugada, rosto ameaçador, hummm... melhor não aprontar heim gurizada, pode ser a Cuca. 

Ou ainda, metade mulher, rabo de jacaré e cara de coruja? Cuca!

Mora em um pântano, caverna ou em um lugar bem escondido na mata? Cuca!

E é quando a noite chega, que ela sai. Para onde e por quê? Dizem - os que dizem coisas que nem sempre queremos dizer - que ela sai em busca de crianças insones, e para onde as leva... ahm, melhor nem saber.

8 de jul. de 2011

E enfim, ele levará sua alma... Criaturas do nosso folclore - IV



E enfim, ele levará sua alma...

Por Tânia Souza

Se o seu maior desejo for poder, muito poder, esta é a criatura certa (ou não) para você. Qual o preço? Oras, o preço é apenas um pequeno detalhe, sua alma quando enfim deixar de viver.

Conseguir um desses? Receitas são várias, e podem envolver pactos,  encruzilhadas, ovos de galinhas, ou galos (O.o) fecundados pelo próprio demônio, estrume, noites escuras na Quaresma, ovos embaixo das axilas, uma sexta-feira, etc etc.... Ah, e uma garrafa com tampa!

Mas tem certo charme, o pequenino que mora dentro da garrafa. E para que seu “diabinho familiar” cresça bem e forte, alimente-o com ferro ou aço moído.

Demônio da garrafa, Famaliá, Cramulhão, Capeta da Garrafa e Diabinho da garrafa são apenas alguns dos nomes da criatura.
**

Fígado? Hum, delícia!! - Criaturas do nosso folclore - III


Fígado? Hum, delícia!!


Por Tânia Souza

Às vezes, sua aparência é absolutamente comum. Um homem caminhando pelas ruas, talvez meio sisudo, quase ameaçador, caso carregue algum saco. Deste, dizem ser apenas um encarregado de cumprir a tarefa e que o verdadeiro senhor, rico e poderoso, o aguarda. Não, não se trata do velho e conhecido Homem do Saco. Mas para os teimosos, o medo que causa é igual.

Doces, balas, brinquedos e outras coisas servem de encanto e atração, até ser tarde demais para quem se deixar enganar.

Em outras ocasiões, ele surge com “mais presença”, uma criatura inchada, pele macilenta, próxima a um tom esverdeado, unhas que lembram aves de rapina, orelhas pontiagudas e dentes afiados.

Suas vítimas favoritas? Crianças, de preferência teimosas, das quais suga o sangue e come-lhes o fígado.

Terrível? Não, questão de sobrevivência, por uma rara doença ou nefasta maldição, ele precisa dos fígados para viver.

A língua do povo encurtou-lhe o nome, mas não o medo.

É o Papa-figo!


**

Cuidado com a língua - Criaturas do nosso folclore - II

Cuidado com a língua

Por Tânia Souza


Ele é gigantesco, tem o corpo coberto de pelos grandes e alongados. Quase um gorila.

Quase.

Dele não se sabe muito, apenas que ataca durante as noites, tem força incrível e hábitos alimentares peculiares.

Em sua folclórica dicotomia revela-se: metade homem, metade macaco. A criatura, quando com fome ataca com sua vitima, bicho ou homem, espanca e fere sem piedade até conseguir arrancar seu alimento favorito, a mais fina e escorregadia das iguarias: uma língua suculenta.

Ele é o Arranca-Línguas. 


** 

7 de jul. de 2011

É Coisa de Boto - Criaturas do nosso folclore I


É Coisa de Boto

Por Tânia Souza

Ele é bonito. Bonito demais! 

Vai chegando assim, de mansinho, todo moço, todo jovem. Alinhado que só vendo. Nos bailes, as moças - donzelas ou não - conseguem desviar o olho não. Dançar assim deve ser até pecado. Ah, tentação!!!

E o chapéu sempre na cabeça? É parte do charme. A moça mais bonita de todas é sempre a mais sortuda. A escolhida. Depois, ninguém nem pra ver, tem passeio na beirinha do rio, sedução ao luar.

Mas voltar que é bom, ele volta não. Ele é criatura do rio.

A moça fica. E na barriga, cresce o filho do Boto. Chapéu era para esconder marca de Boto que mesmo parecendo moço, não sai.

Mais que isso, moça não conta não... povo fala por demais, mas vai saber o que a moça viu lá onde ninguém mais foi?

E ele, todo em rosa e cor, mergulhando pelos rios, sempre em busca das mais vistosas, nas festanças mais animadas... Algumas delas, voltam nunca mais.

Sei não seu moço, mas beleza assim, maldição da braba esconde.

É coisa de Boto. 


**

5 de jul. de 2011

Saci Saci

Saci saci  

No sítio do Seu Domingos
Certa noite fomos dormir
Acordamos assustados
Muito barulho por ali

De longe eu só ouvia
O assovio que arrepia
Era ainda tão guria
Na cama tremia

Os bichos espantados
A noite inteira de andanças
Os cavalos relinchavam
Lá fora estranhas festanças

Quando o sol nasceu
Foi aquela danação
No galinheiro um alvoroço
Penas por todo lado
E no pasto muito mais
O gado assustado
O Cocho virado
O Portão destravado
O Leite estragado
Tudo fora do lugar

Foi Saci, foi Saci, foi sim
Saci saci, vá para longe daqui
E Dona Domingas se benzia
Vendo as crinas trançadas
Dos cavalos suados

Foi o seu Tonho da Porteira
Que apareceu com a solução
Deixar naquela noite
De aguardente uma porção
De fumo do bom um montão
E tudo bem arrumadinho
Para contentar o brincalhão

E foi assim, foi sim, foi sim
Que no sitio dos Domingos
Nunca mais houve confusão

Tânia Souza

4 de jul. de 2011

A Irmandade



O site “A Irmandade está sendo oficialmente lançado hoje, dia 06/07/2011, e pretende ser mais do que simplesmente um site comum voltado à Literatura de Gêneros. Além das já tradicionais seções à publicação de contos, resenhas de livros, dicas de leitura, a proposta, em verdade, também é formar uma comunidade de pessoas que gostem da Literatura Fantástica. “A Irmandade” quer ser uma opção dinâmica, um point de encontro, entre as pessoas que gostam de escrever, ler, comentar, compartilhar opiniões, enfim, mostrar à apreciação de outros os seus contos ou projetos literários.

O grupo por trás da construção e manutenção deste novo espaço online tem história e já vinha acalentando este projeto há um bom tempo, passando por várias etapas em espaços virtuais diversos, como se poderá acompanhar na leitura de apresentação publicada na na sua própria homepage.

Algumas das pessoas envolvidas na feitura e filosofia do site têm experiências paralelas neste tipo de publicação, o que só faz enriquecer ainda mais a proposta como é o caso dos sites e blogues, Contos Fantásticos, Contos Grotescos, Mundo de Fantas, Arquivos do Barreto, Forum Câmara dos Tormentos, entre outros.

Portanto, fica aqui o convite para visitar o site, conhecer o Fórum, participar do Desafio Literário de julho. Todos os amantes da Literatura Fantástica serão muito bem vindos!

17 de jun. de 2011

Cursed City - primeiras impressões

Esqueça sua alma
esqueça...

Lembre-se apenas
do cano fumegante do Colt 45
do fogo líquido corroendo suas veias

E da poesia suja e maldita
escrita com letras de um sangue escuro como a noite

Esqueça as canções douradas
esqueça a voz de sua amada
Não chore cowboy, não chore
o sangue inocente das planícies

Cante sua canção, cowboy
Cursed City é sua eterna morada

                                                                                           Tânia Souza

E finalmente, Cursed City chegou! E com algumas dedicatórias bem legais do moradores, digo, autores que estiveram no lançamento. Agradeço de montão a Celly Borges que saiu a captura destes autógrafos, valeu. Nem preciso dizer que o visual está muito bacana e que a Editora Estronho, como sempre, fez um belo trabalho.

Desde o primeiro momento em que li sobre a antologia, fiquei louca para participar, faroestes estão entre as minhas primeiras leituras, principalmente os de bolso, que meu pai colecionava, eu adoro o tema. Participo da coletânea com o conto Demônios da Escuridão e alguns personagens ficaram queridos para mim e, por isso, têm grande chance de voltar em outros contos. 

O livro é bem maior que imaginei, com 20 contos e estou curiosa para ler os causos mais sombrios de Cursed City.

Ah, essa poesia foi escrita especialmente para o livro, espero que tenham gostado.

13 de mai. de 2011

noturno I

entre vultos e mistérios
palavras espreitam
espectros da noite

12 de abr. de 2011

Filho da escuridão



Não deixe de conferir, no blog Fantasia & Terror, do meu amigo , o conto  Sangue Maldito ,  os primeiros instantes de sombra e dor deste filho da escuridão. 


Filho da escuridão

Por Tânia Souza


Nasci no dia de minha morte!
Ah, nascer quando a morte é apenas o sono sem sonhos em um repouso eterno? E se pudéssemos escolher? E se você soubesse? E se você se lembrasse? Você escolheria a vida? Ou apenas o sono eterno?
Cada instante deste suplício permanece em minha mente. Quem poderá dizer que se lembra do próprio nascimento? Do instante derradeiro no qual abre os olhos para vida e existir torna-se enfim o seu conflito? Pois eu me lembro e as lembranças desse sono do qual despertei retornam a mim com assombro. No principio havia apenas a escuridão. Um longo e profundo negrume me envolvia enquanto uma febre rubra tomava meus poros. A dor confundia-se com a fome e eu permanecia encolhido em posição fetal, me contorcendo em meio aos sonhos e mistérios de uma existência fantástica. A longa escuridão foi meu berço. As trevas geravam uma nova criatura e o mundo lá fora, em seu estranho frenesi, talvez nem soubesse. 

11 de abr. de 2011

Flores da madrugada - Tânia Souza


            As flores murchavam com o frio da noite! O homem de smoking abriu a porta do carro para o salto agulha, em tom prata, tocar o asfalto e a ruiva descer. Angélica jamais vira mulher tão bonita. “Uma flor para a moça senhor?” Ele olhou para a menina, os ossos da vendedora de flores apareciam sob a roupa e os lábios tremiam. Colocou a mão no bolso, mas foi interrompido. “Não seja tolo mon amour, essa raça prolifera. Guarde seus presentes para mim...” E riu. O moço assentiu para a dama, enquanto Angélica secava uma lágrima. Pensou no pai violento e se encostou à parede esperando as horas passarem. Como as flores, ela murchava. 

           Despertou na madrugada com a dor, o homem de olhos vermelhos a atacava, porém não lutou.  Sorveu com avidez algo quente derramado em seus lábios e o corpo entrou em frenesi. Desmaiando, ouviu “este presente é seu, mon chéri
 
Acordou com a fome e feito bicho, saltou. Numa sala ricamente decorada, o rapaz olhava para ela. Sobre um pequeno divã, a ruiva desmaiada, o pescoço ferido deixava o sangue escorrer pela pele branca, o sapato prata largado no chão. Ele disse apenas ”Beba, minha querida!” E Angélica não pensou duas vezes, cravando os dentes no vermelho quente, sugando até sentir vertigem. O homem se aproximou e, de uma vez, cortou a cabeça da dama. “Nunca se esqueça de terminar o serviço. Essa raça prolifera... não merece nosso dom”. 

Ele sorriu, mostrando os dentes afiados, Angélica sorriu de volta. Um traço cruel no rosto angelical. Sempre fora uma criatura da noite e enfim, encontrara seu lar.
Tânia Souza

Conto vencedor do II CONCURSO DE MINI-CONTOS DO MASMORRA DO TERROR, promovido por Lino França Jr. 


9 de abr. de 2011

Aroma de estrelas

Aroma de estrelas
Por Tânia Souza



Tudo é cinza e frio. Meus passos ecoam neste imenso deserto. Por onde olho, vejo apenas vastidão de pedras e cavernas. Em uma delas, resido. Não se trata de uma caverna qualquer. Foi adaptada por mim. Contem o que necessito para permanecer em ordem e funcionando. Aqui, os dias e as noites são longos. Não se ouve o lamento de animais, não se ouve sons, ruídos, não se vê movimento algum além de poeira cósmica ocasional. Estamos no planeta Sunriand. Na verdade, um planetóide de ricos minérios, mas instável para a sobrevivência humana. Não há água em Sunriand. Não há comida. Não há vida. Apenas eu e a carcaça de outras máquinas que deixaram de funcionar.

Um nome... Sim, eu tive um nome, mas ele se esvai com outras lembranças e não consigo buscá-lo nos desenhos do passado. Outrora fui cidadã, hoje sou propriedade do estado, sou uma prisioneira. Estou cumprindo pena em Sunriand. Não há absolutamente ninguém aqui. Teoricamente, também não estou aqui.

21 de fev. de 2011

Aprenda a beijar

Poema resposta a um desafio!

Aprenda a beijar

Sei que ando assim enluarada
Sou mulher, fêmea, ferina femínea
                          Delicadas nas ações, doçura no coração
Porem, de tão enjoada dessa lida
Resolvi tomar uma nova guarida

Pois cada dia em meu caminho
Há de ser livre dos espinhos
Amo demais, mas tenho sapiência
E também músculos fortalecidos

Todos os sopapos de uma existência
Guardados em suave paciência
Revoltaram-se e respiram livres
Chega de poesias soluçantes
Nada será como antes

Ouçam agora, mulheres do mundo
Como lidarmos com este submundo
Que outrora chamamos de amores

Meu manifesto é plural
Mas se não surgirem adeptas
Farei dele meu particular manual

Deixemos de lado o puro sentimento
Façamos deles nossos escravos
Somente assim, merecerão ser amados

Como sempre, hão de beijar-nos a pele
Acariciar-nos trêmulas, todas as curvas
Porém, deste momento em diante
Tementes, cerrarão os olhos para não ver,
Quando passarem outras musas

Acarinhar-nos-ão em horas turvas
Falando suaves de tristezas ou luxurias
E beijar-nos a boca com loucuras

E se acaso este beijo
Não tocar-nos completamente
Entre lábios, corpos, suspiros, prazer e alma
Sentirão nossas mãos enluvadas, friamente
Enchendo-lhes a face de pancadas.
E os pés deixando bem marcadas
As partes que lhe são mais amadas

E se ele reclamar, não perde por esperar
Outro mais atento tomará o seu lugar
              Para cuidar bem, da doce mulher que tem.


Tânia Souza

Este poema é principalmente uma brincadeira, se o eu-poético é ferino, a autora, no caso eu,  detesto violência e agressividade. Os versos nasceram como resposta a um comentário-desafio, este que segue abaixo.

“Não consigo ler uma poesia feminina falando que se ele não a beijar corretamente ela vai cobri-lo na porrada.” 

Ah, aos que me perguntaram sobre o autor da pérola, ele pediu que omitisse o seu nome. Que pena u.u