11 de set. de 2009

Era uma vez, uma floresta...


Era uma vez, uma floresta...

Não era a primeira vez que Lina passava por aquele caminho, entre os ramos retorcidos e galhos antigos, a floresta era sua conhecida desde sempre, mas a cada passo descobria sinais nunca vistos. Seus passos mal tocavam o chão escorregadio, enquanto os pensamentos voavam para o que deixara lá trás. Os olhos percorriam ansiosos a mata serrada vendo a noite que derramava-se com velocidade espalhando sombras entre os galhos mais altos. Os resquícios de luz brincavam de dourado trazendo à jovem os velhos conselhos: não ande sozinha... não atravesse a floresta a noite... não fale com estranhos... As vozes que sempre orientaram seus passos desde a infância repetiam-se como um caleidoscópio retumbante no mesmo compasso que o coração de Lina. O medo percorria-lhe o corpo, estremecendo-lhe os sentidos de quando em quando e queimando na expectativa do que viria ! Porém, o Estranho não lhe parecera assim tão estranho, havia sentido os olhos vasculhando-lhe a alma, presa num fascínio novo, ficara até que o silêncio das horas tardias chegasse e o estranho enfim lhe deixara partir.

A floresta tornava-se densa a cada passo e, aos sussurros das arvores ancestrais os cipós cresciam, entrelaçando-se em seus caminhos; os olhos da floresta, lendas ou não, pareciam agora maiores, seguindo-lhe os passos, espreitando-lhe o medo.

Um rumor fluido pareceu sobrepor-se aos outros e eis que apenas um som, um surdo som se fez ouvir acima do silêncio inesperado que acometera a floresta, tal qual um manto cobrindo os vestígios da vida. Este som era o coração de Lina.

Algo estava chegando, ela sabia, algo que sempre a espreitara e a quem sempre pressentira nos seus caminhos pela floresta.

Não fale com estranhos... O Estranho tocara Lina, e ela não conseguira nem quisera detê-lo; quando as mãos se aproximaram, apenas o fitara, fascinada com os dedos movendo-se e eis que seus cachos caíram, vermelhos e rebeldes espalhando-se feito línguas de fogo no ar. A garota não se lembrava de alguma vez senti-los assim, livres, sua avó sempre lhe recomendara mantê-los presos e bem trançados. O dia que Lina não seguiu o orientado, os olhares lançados pelos aldeões confirmaram as palavras da avó, só podiam ser imorais em tais tons de sol. E agora, eles moviam-se como a vida, diante dos olhos do estranho. Selvagem! A primeira palavra que Lina pensou, pronta para algo que não soubera definir, entretanto, o estranho a deixara partir. O cheiro da noite se aproximando despertou Lina enquanto o estranha gargalhava, seus passos cruzavam velozes a floresta, trêmula, sentia nos cabelos avermelhados a força estática do ar, correntes elétricas entre ela e a natureza.

Na floresta, já não andava, corria, tropeçando nos pés descalços, sentindo a força da terra, das pedras ferindo-lhe; cada vez mais perto, os galhos rasgavam-lhe a roupa, arranhando-lhe a pele, mas não importava, desejava apenas sobreviver... fugir. Mas de repente, a menina parou. Em frente a ela o caminho para a aldeia, alguns passos e de novo as tranças da avó, o conforto do fogo e da cama quentinha... Lina virou-se, dando as costas ao mundo que conhecia, era a sua escolha, seu caminho, suas descobertas. Olhos! Foram os olhos o primeiro registro de Lina; Inúmeros: castanhos, ferozes, verdes, irônicos, azuis, compreensivos, lascivos.. olhos de mulheres pálidas e homens lânguidos, seres cuja força adivinhava-se por baixo da pele; Entre eles o Estranho, sorriso mórbido no face, mas Lina ainda procurava, seus olhos percorriam as faces e não se encontravam, lentamente eles a cercaram, estremecendo, Lina viu-se como num conto ancestral, os cabelos desgrenhados, o vestido antes tão claro rasgado em tiras, mas a mesma força selvagem que sentira quando correu entre as arvores estava nela. E assim eles se afastaram abrindo um caminho que seus olhos seguiram atentos. Um perfume de madeira e pinho encheu o ar quando Ele surgiu, movendo-se sobre a relva sem tocá-la, e num instante em frente a ela: o tremor tornara-se incontrolável, seus olhos ergueram-se fascinados e sua mão pequena estendeu-se buscando a face pálida, quase transparente. Suas veias pulsavam com a força do sangue.

Quando a ponta do dedo de Lina tocou-lhe a face, ele fechou os olhos e ela sentiu em seus dedos a força da vida como um choque empurrou-lhe para trás, mas não caiu, os braços a seguraram e os olhos antigos prendiam-na. As mãos de Lina novamente moveram-se, desta vez estava preparada e uma única lágrima correu solitária na face pálida quando tocou-lhe o peito com a mão. De alguma forma, aquele sempre fora o seu caminho, ela sabia que nascera para aquele momento. O ar ao redor de todos tornava-se embaçado, uma neblina plena de aromas desconhecidos ameaçava cobrir a tudo, quando um grito a despertou. Seu nome, clamavam por seu nome, não uma, mas várias vozes no tempo, pessoas da sua família, amigos, aldeões e, com eles foices, machados, madeiras e armas diversas, Lina gritou quando chegaram, arrancando-a dos braços dele; estendendo as mãos, pediu para ficar. Quando a luta tornou-se feroz, Lina desmaiou entre os grunhidos e gemidos de dor.

Desde que acordou em casa, ela chorou por vários dias, nada dizia e, depois de tentar fugir duas vezes para a floresta e ter seus passos vigiados, ela não chora mais. Cabelos soltos, olhos perdidos em direção a floresta, Lina aguarda. Um dia, Ele virá!



3 comentários:

  1. Anônimo13:56

    achei A FILOSOFIA DA COMPOSIÇÃO, DE Poe, copia e cola no navegador:
    http://oficioliterario.wordpress.com/2007/11/29/filosofia-da-composicao-de-edgar-alan-poe/

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  2. Oi, tem selinho p/ vc lá no meu blog...
    Bjinhosssssss

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  3. Oi, indiquei seu blog para um selo:

    http://mundodefantas.blogspot.com/2009/09/mundo-de-fantas-recebe-mais-uma.html

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