Obscuro amor
Por Tânia Souza
I
Das mais remotas sagas o amor traz consigo o peso fúnebre de guerras e vinganças, vitórias e derrotas. Por amor marcou-se o solo do mundo com oceanos de lágrimas. Por amor se morre, por amor se mata... por amor enlouquece o homem, insana torna-se a mulher. E desse mal eu fora ferido: era amor, entanto era muito mais desejo. Uma ânsia, uma angústia que corrói a alma e escurece o olhar de sombras tantas só iluminadas perante o ser que amamos, amamos e muitas vezes amamos.
Amor! Desejo! Obsessão! Não o amor de Romeu por Julieta, porém a febre angustiada de Otelo, capaz de ceifar nas mãos amorosas a pérola amada por louco ciúme. Amor que aprisiona de tal modo que morrer, ah, morrer já não representa a liberdade, pois as sombras nefastas do além não conseguem abrandá-lo.
Entanto, vivendo uma existência sem surpresas até o instante que meus olhos desvendaram a face de Ana, eu não conhecera o amor. Aos 37 anos de idade, sabia o sentido da palavra exaltação somente dos livros... Assim, eu a vi! E tudo o que chamara de viver simplesmente perdeu o significado.
Debalde ser um artista, parecia-me um ogro. Talvez minha aparência rude a tenha assustado e sim, rude eu sempre fora, as unhas quebradiças, as mãos cheias de cicatrizes das longas batalhas para dar a vida aos meus pequenos seres, no entanto fora esta rudeza cerceada pelas ilusões literárias. Na pequena vila na qual cresci, criado pelo abade, forjei minha personalidade entre os livros e a ferocidade da natureza. No cemitério que se ocultava por trás da paróquia e ocasionalmente exercia a função de coveiro, em tardes modorrentas descobri nas páginas amareladas os mais fascinantes universos da fantasia. Duas eram as paixões que seduziam meus sentidos: a força da terra a ser domada até que restasse apenas a maciez do solo onde a semente germinaria e os livros da velha biblioteca; páginas onde os universos tomavam de tal forma sentido que nada mais me faltava.
Quando aprendi meu oficio, deixei o amor pela terra e pelos livros para instantes raros. Tornei-me artesão, um bonequeiro. Destas mãos grosseiras surgiam belas bonecas: raras, feitas para crianças especiais, para jovens princesas. Aprendi com o abade a profissão, a arte da criação. Caso houve em que levei anos em uma mesma criação. Destas, era difícil despedir-me. Nas peças feitas por encomenda, procurava ser mais rápido, entretanto cada boneca possuía sua essência própria, um tempo para nascer, tomar forma. Esta era minha vida, minha arte.
Continua...
Este conto está dividido em cinco partes que serão postadas aqui em sequência, agradeço aos que acompanharem a saga deste amor obscuro.
Oi...
ResponderExcluirvenho agradecer por adicionar o banner do trilha do medo XD
e peço pra que me mande o seu
obrigado e até+
Tânia, este conto promete!
ResponderExcluirNão vejo a hora de continuar a ler!
Parabéns pelos contos sempre tão bem escritos, que dão vontade de continuar lendo!
^.^
Levando em consideração o início, posso dizer que este conto promete.
ResponderExcluirÉ muito bom ler material novo da senhorita, que é sem dúvida um dos maiores nomes da Literatura de Terror da atualidade! :)
Adorei teu blog, virei seguidora e colocarei na lista de sites de meu blog.
ResponderExcluirNossa esse promete mesmo!Adorei!
ResponderExcluirParabéns Tânia...
Bjos,
.::Clau::.
Personas, muito obrigada pela leitura e pelos comentários. Espero não decepcioná-los ^^
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